Vaticano: Papa Francisco homenageia sabedoria e dedicação de Bento XVI (c/vídeo e fotos)

Homilia do funeral destaca serviço do falecido Papa emérito à Igreja

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 05 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco prestou hoje homenagem à “sabedoria” e “dedicação” do seu predecessor, Bento XVI, durante a Missa exequial do Papa emérito, que reuniu milhares de pessoas na Praça de São Pedro.

“É o Povo fiel de Deus que, congregado, acompanha e confia a vida de quem foi seu pastor. Como as mulheres do Evangelho no sepulcro, estamos aqui com o perfume da gratidão e o unguento da esperança para lhe provar, uma vez mais, o amor que não se perde; queremos fazê-lo com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que ele soube dispensar ao longo dos anos”, disse, na homilia da celebração.

“Queremos dizer juntos: ‘Pai, nas tuas mãos entregamos o seu espírito’”, acrescentou o Papa.

Bento XVI, Papa entre 2005 e 2013, faleceu a 31 de dezembro de 2022, aos 95 anos de idade; o sucessor de São João Paulo II foi o primeiro pontífice a renunciar ao pontificado desde Gregório XII, em 1415.

“Firmemente unidos às últimas palavras do Senhor e ao testemunho que marcou a sua vida, queremos, como comunidade eclesial, seguir as suas pegadas e confiar o nosso irmão às mãos do Pai: que estas mãos misericordiosas encontrem a sua lâmpada acesa com o azeite do Evangelho, que ele difundiu e testemunhou durante a sua vida”, declarou Francisco.

O Papa disse que a vida dos cristãos, e em particular de quem é “pastor”, deve imitar a de Jesus Cristo numa “entrega contínua nas mãos do seu Pai”.

A homilia evocou a importância de “conhecer o amor de Deus” e “acreditar nele”, evocando o ensinamento da primeira encíclica de Bento XVI, Deus Caritas Est, publicada em 2006.

O Papa citou a homilia do seu antecessor, na Missa do início do pontificado, a 24 de abril de 2005: “Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença”.

Francisco usou a imagem das mãos do crucificado, com as suas chagas, “mãos de perdão e compaixão, de cura e misericórdia, mãos de unção e bênção, que o impeliram a entregar-se também nas mãos dos seus irmãos”.

A reflexão abordou ainda três caraterísticas do “coração do pasto”: “dedicação agradecida, dedicação orante e dedicação sustenta pela consolação do Espírito”.

O Senhor vai gerando a mansidão capaz de compreender, acolher, esperar e apostar para além das incompreensões que isso possa suscitar. Fecundidade invisível e incontrolável, que nasce de saber em que mãos temos posta a nossa confiança”.

Sem referências diretas à renúncia do seu predecessor, o Papa elogiou quem vive numa “confiança orante e adoradora, capaz de moldar as ações do pastor e adaptar o seu coração e as suas decisões aos tempos de Deus”.

“É a consciência do pastor que não pode carregar sozinho aquilo que, na realidade, nunca poderia sustentar sozinho e, por isso, sabe abandonar-se à oração e ao cuidado do povo que lhe está confiado”, acrescentou, citando de novo a homilia de Bento XVI no início do seu pontificado, em 2005.

Francisco elogiou ainda o “testemunho fecundo daqueles que, como Maria, permanecem de muitos modos ao pé da cruz, naquela paz dolorosa, mas robusta, que não agride nem escraviza”.

“Bento, fiel amigo do Esposo, que a tua alegria seja perfeita escutando definitivamente e para sempre a sua voz”, concluiu.

Após a homilia, os presentes rezaram por Bento XVI, para que “o eterno Pastor o acolha no seu reino de luz e de paz”, numa oração em alemão.

O cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, celebrou no altar, como tem acontecido em várias celebrações dos últimos meses, devido às limitações físicas do atual pontífice, que se sentou numa cadeira colocada lateralmente.

A cerimónia foi concelebrada por 125 cardeais e 400 bispos, incluindo representantes portugueses – os cardeais D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça, bem como os bispos D. José Ornelas (presidente da CEP), D. Carlos Azevedo (delegado do Comité Pontifício das Ciências Históricas), D. Américo Aguiar (presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023) e vários clérigos ao serviço da Santa Sé – e cerca de 4 mil sacerdotes.

O caixão de cedro, com o corpo do Papa emérito, foi colocado na Praça de São Pedro cerca de 40 minutos antes do início da Eucaristia, sob os aplausos da multidão; além do Evangelho aberto, sobre o féretro, este é adornado apenas pelo brasão de Bento XVI, com símbolos que remetem para a tradição da Baviera (Alemanha), sua terra natal, e a Santo Agostinho, doutor da Igreja e referência do percurso teológico de Joseph Ratzinger.

A cerimónia contou com representantes de várias Igrejas cristãs, incluindo dos patriarcados ortodoxos de Constantinopla e Moscovo, líderes de várias religiões e delegações oficiais da Alemanha e da Itália, além de personalidades políticas, que participaram a título pessoal, como os reis da Bélgica ou os presidentes da Hungria, da Lituânia e da Polónia, bem como Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa.

Os capitães regentes de San Marino, a rainha emérito Sofia de Espanha, os primeiros-ministros da República Checa, Gabão e Eslováquia, além de ministros do Chipre, Colômbia, Croácia e França, estiveram também na celebração.

Após a Comunhão, decorreu o rito da ‘Ultima Commendatio’ (última encomendação) e da Valedictio (adeus), antes da sepultura, em cerimónia privada.

A multidão (50 mil pessoas, segundo estimativas da Gendarmaria do Vaticano) despediu-se com gritos de “Benedetto” e “Santo Subito”, tendo o Papa Francisco parado diante do féretro, em silêncio, para o abençoar e rezar com uma mão apoiada sobre o mesmo, fazendo um gesto de homenagem a Bento XVI.

OC

Notícia atualizada às 10h30

Bento XVI foi sepultado, por seu desejo expresso, na Cripta da Basílica de São Pedro, no túmulo que recebeu São João Paulo II, antes de o Papa polaco ser transferido para uma capela perto da ‘Pietà’ de Michelangelo, após a sua canonização.

O caixão em cedro foi selado com os selos da Prefeitura da Casa Pontifícia, do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e do Capítulo de São Pedro, antes de ser colocado numa urna em zinco e num terceiro caixão, em madeira.

 

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Agência ECCLESIA

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