Francisco defende «nova perspetiva humanista» para o pós-Covid-19
Cidade do Vaticano, 23 nov 2021 (Ecclesia) – O Papa afirmou hoje que a pandemia levanta questões “fundamentais” sobre a sociedade e a vida, exigindo respostas que apresentam uma “nova perspetiva humanista”.
“A pandemia colocou em crise muitas certezas em que se baseia o nosso modelo social e económico, revelando a sua fragilidade: relações pessoais, formas de trabalho, vida social e até mesmo a prática religiosa e a participação nos sacramentos. Mas também, e acima de tudo, voltou a colocar, com força, as interrogações fundamentais da existência: a pergunta sobre Deus e o ser humano”, numa mensagem em vídeo aos participantes na Assembleia Plenária do Conselho Pontifício para a Cultura.
O encontro tem como tema ‘Rumo a um humanismo necessário’, decorrendo em formato digital, por causa da pandemia.
“Qual é a condição específica do ser humano, que o torna único e irrepetível em relação às máquinas e também às outras espécies animais? Qual é a sua vocação transcendente? De onde vem o seu chamamento para construir relacionamentos sociais com outras pessoas?”, questiona o pontífice.
Francisco elogia a escolha do tema, face à crise provocada pela Covid-19, destacando a necessidade “não só de novos programas económicos ou de novas receitas contra o vírus”, mas também da “nova perspetiva humanista” que recorra à tradição bíblica e clássica, bem como à reflexão sobre a pessoa, presente nas várias culturas.
“Estou a pensar, por exemplo, na visão holística das culturas asiáticas, na procura da harmonia interior e com a criação”, indica.
O Papa destaca que num tempo do “fim das ideologias”, marcado pela revolução digital e o ambiente científico, a pergunta sobre o “que é o homem” permanece válida, precisando do contributo teológico.
“Hoje está em curso uma revolução – sim, uma revolução – que toca os nós essenciais da existência humana e requer um esforço criativo de pensamento e ação”, refere.
Francisco propõe uma visão positiva da pessoa, como “servidora da vida” e construtora do bem comum, “com os valores da solidariedade e da compaixão”.
“Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de redescobrir o significado e o valor do humano em relação aos desafios que têm de ser enfrentados”, sustenta.
A intervenção conclui-se com uma citação de Virgílio sobre as “lágrimas das coisas” (Sunt lacrimae rerum et mentem mortalia tangunt).
OC