Vaticano: Papa desafia bispos e comunidades católicas a rejeitar «fanatismo» e anunciar mensagem de «libertação»

Francisco entregou pálios a arcebispo de 34 diocese metropolitas, incluindo quatro do Brasil

 

Cidade do Vaticano, 29 jun 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje à Missa da solenidade de São Pedro e São Paulo, no Vaticano, convidando a Igreja a rejeitar qualquer forma de fanatismo e a ser profeta de “libertação”.

“A observância formal da religião e a defesa implacável da tradição, em vez de abrir São Paulo ao amor de Deus e dos irmãos, tinham-no endurecido. Era um fundamentalista”, disse, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro, com a entrega do pálio a 34 arcebispos de vários países, incluindo quatro do Brasil.

Os metropolitas nomeados nos últimos 12 meses proferiram um juramento no qual cada um se comprometeu a ser “sempre fiel e obediente” ao “bem-aventurado Pedro apóstolo”, à “santa, apostólica Igreja de Roma”, ao Papa e seus “legítimos sucessores”.

“Rezamos por vós, pelos pastores, pela Igreja, por todos nós: para que, libertados por Cristo, possamos ser apóstolos de libertação em todo o mundo”, indicou Francisco.

Francisco evocou os apóstolos Pedro e Paulo, “duas testemunhas da fé” que, no encontro com Jesus, “fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros”.

“Pedro e Paulo são livres unicamente porque foram libertados. Detenhamo-nos neste ponto central”, convidou.

Tocados pelo Senhor, também nós somos libertados. E temos sempre necessidade de ser libertados, porque só uma Igreja livre é uma Igreja credível”.

O Papa abordou a libertação do “zelo religioso” que tornara São Paulo “fanático na defesa das tradições recebidas e violento ao perseguir os cristãos”.

“Foi disto que Deus o libertou; ao invés, não o poupou a tantas fraquezas e dificuldades que tornaram mais fecunda a sua missão evangelizadora”, acrescentou.

Como Paulo, somos chamados a ser livres das hipocrisias da exterioridade; livres da tentação de nos impormos com a força do mundo, em vez da debilidade que deixa espaço a Deus; livres duma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis; livres de vínculos ambíguos com o poder e do medo de ser incompreendidos e atacados”.

Francisco indicou ainda que São Pedro, o primeiro Papa, foi um discípulo com falhas e hesitações, que Jesus “amou desinteressadamente”, apostando nele.

Com Cristo, indicou, a vida do apóstolo Pedro tornou-se “uma nova história de abertura, de libertação, de correntes quebradas”.

Deste modo libertou-o do medo, dos cálculos baseados apenas nas seguranças humanas, das preocupações mundanas, infundindo nele a coragem de arriscar tudo e a alegria de se sentir pescador de homens”.

A intervenção alertou para a “perda da esperança que embrutece a vida das mulheres e dos homens” da sociedade contemporânea.

“Quanta necessidade de libertação têm as nossas cidades, as nossas sociedades, o nosso mundo? Quantas correntes devem ser quebradas e quantas portas trancadas devem ser abertas?”, questionou.

Os pálios entregues na celebração estavam desde a noite anterior junto do túmulo do apóstolo Pedro, e foram transportados durante a celebração para junto de Francisco, que os abençoa e entrega a cada arcebispo, no final da Missa.

Esta insígnia é feita com a lã de dois cordeiros brancos e simboliza o Bom Pastor, que carrega nos ombros o cordeiro até dar a sua própria vida pelo rebanho, como recordam as cruzes negras bordadas.

“Este sinal de unidade com Pedro recorda a missão do pastor que dá a vida pelo rebanho. É dando a vida que o pastor, livre de si mesmo, se torna instrumento de libertação para os irmãos”, declarou Francisco.

Em 2015, o Papa decidiu modificar a celebração de entrega dos pálios aos novos arcebispos metropolitas, deixando de impor esta insígnia no Vaticano, uma tarefa agora confiada aos núncios apostólicos (representantes diplomáticos da Santa Sé).

O pálio é envergado pelos arcebispos metropolitas nas suas dioceses e nas da sua província eclesiástica, sistema administrativo que remonta à divisão civil do Império Romano, depois da paz de Constantino (313); em Portugal há três províncias eclesiásticas: Braga, Lisboa e Évora.

OC

A solenidade de São Pedro e São Paulo foi acompanhada no Vaticano por uma delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), recebida esta segunda-feira pelo Papa.

“A vossa amável presença é um sinal precioso de unidade no caminho de libertação das distâncias que, escandalosamente, dividem os crentes em Cristo. Obrigado pela vossa presença”, afirmou Francisco.

 

 

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Agência ECCLESIA

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