Vaticano: Papa denuncia «descarte» dos idosos, recordando sofrimento durante a pandemia

Francisco inicia ciclo de catequeses sobre o significado e o valor da velhice

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 23 fev 2022 (Ecclesia) – O Papa iniciou hoje no Vaticano um ciclo de catequeses sobre o significado e o valor da velhice, convidando a valorizar os idosos face à “cultura do descarte, da produtividade”, que os coloca de parte.

“Os idosos muitas vezes são vistos como um fardo. Na dramática primeira fase da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto. Já eram a parte mais fraca e negligenciada: não olhávamos muito para eles em vida, nem sequer os vimos morrer”, assinalou, na audiência geral que decorreu no Auditório Paulo VI.

Francisco afirmou que, apesar de nunca ter havido tantos idosos como atualmente, na história da humanidade, “o risco de ser descartado é ainda mais frequente”.

“Juntamente com a migração, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento”, observou.

A intervenção falou numa atitude de “separação e rejeição” em relação às gerações mais velhas, num mundo com “longevidade em massa” e cada vez menos crianças, em muitas regiões, por causa do “inverno demográfico”.

“Para uma idade que hoje é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos assistenciais, mas não projetos de existência. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade”, lamentou.

O Papa sublinhou que a cultura dominante tem como modelo único o “jovem adulto”, ou seja, “um indivíduo que se faz a si mesmo e permanece sempre jovem”.

“A exaltação da juventude como única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo da velhice vista como fragilidade, degradação, deficiência, foi o ícone dominante dos totalitarismos do século XX. Será que já nos esquecemos?”, questionou.

A juventude é bela, mas a eterna juventude é uma alucinação muito perigosa. Ser velho é tão importante – e bonito – quanto ser jovem”.

Francisco realçou que os idosos não têm de pedir desculpas por sobreviver e devem ser “homenageados pelos dons que levam ao sentido da vida de todos”.

A reflexão apelou a uma “aliança entre gerações”, com amizade e unidade entre as pessoas de várias idades, a começar pelas famílias.

“Se os idosos, os avós, se recolherem na sua melancolia e desistirem de sonhar, os jovens não conseguirão ver para além do seu smartphone”, advertiu.

O Papa convidou a discernir “o significado e o valor da velhice”.

“É importante que o idoso ocupe o lugar de sabedoria, de história vivida, mas também que haja um colóquio, que dialogue com os jovens”, concluiu.

Após a sua catequese, Francisco saudou os peregrinos presentes na audiência pública semanal, incluindo os de língua portuguesa.

“Com a minha saudação, deixo o convite a fazer-vos peregrinos em espírito à Cátedra do Apóstolo Pedro e com ele encontrar o Senhor Jesus que nos diz: Segue-me! Lembremo-nos que segui-lo significa sair de nós mesmos e comunicar a vida a todos, concretamente dando o nosso tempo ao avô, à avó, aos idosos”, declarou.

OC

Vaticano: Papa apela à valorização dos idosos, na Igreja e na sociedade

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