Francisco questiona «indiferença» da comunidade internacional perante tragédias humanas em vários países
Cidade do Vaticano, 10 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje no Vaticano para os “conflitos intermináveis” que decorrem em vários países, criticando a “indiferença” da comunidade internacional perante estes dramas.
“Não podemos esquecer o conflito no Iémen, uma tragédia humana que se desenrola há anos em silêncio, longe dos holofotes dos meios de comunicação e no meio duma certa indiferença da comunidade internacional, continuando a provocar numerosas vítimas civis, especialmente mulheres e crianças”, exemplificou, num discurso aos membros do corpo diplomático acreditados na Santa Sé.
O encontro anual decorreu na Sala das Bênçãos do Palácio Apostólico, onde Francisco apontou ao “diálogo e fraternidade” como “focos essenciais” para superar as crises da atualidade e encontrar “soluções para conflitos intermináveis, que por vezes assumem a fisionomia de verdadeiras e próprias guerras por procuração (proxy wars)”.
Diálogo e fraternidade são de grande urgência para enfrentar, com sabedoria e eficácia, a crise que assola Myanmar há quase um ano, onde as estradas que antes eram lugares de encontro, agora são palco de confrontos, que não poupam sequer os lugares de oração”.
O discurso começou por recordar a guerra na Síria, com mais de uma década, pedindo “reformas políticas e constitucionais” e também que as sanções aplicadas “não atinjam diretamente a vida quotidiana” da população.
A falta de avanço no processo de paz entre Israel e Palestina foi outra preocupação manifestada pelo Papa, que convidou os dois lados a “voltar a falar um com o outro diretamente para chegarem a viver em dois Estados, em paz e segurança, sem ódio nem ressentimentos”.
Francisco destacou várias crises no continente africano, como na Líbia, a região do Sahel, Sudão, Sudão do Sul e Etiópia.
“As desigualdades profundas, as injustiças e a corrução endémica, assim como as várias formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas continuam a alimentar conflitos sociais também no continente americano”, acrescentou.
O Papa desejou soluções “aceitáveis e duradouras” para a Ucrânia e o sul do Cáucaso, alertando para a possibilidade de novas crises nos Balcãs, principalmente na Bósnia e Herzegovina.
A intervenção questionou a produção e comércio de armas, em particular as nucleares, pedindo um “passo significativo” para a sua eliminação, no mundo.
Francisco sublinhou, a este respeito, a importâncias negociações do acordo nuclear com o Irão, esperando que seja possível “alcançar resultados positivos para garantir um mundo mais seguro e fraterno”.
183 Estados mantêm atualmente relações diplomáticas com a Santa Sé, a que se somam representações da União Europeia e da Soberana Ordem Militar de Malta.
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