Francisco falou aos participantes na 39ª conferência da FAO
Cidade do Vaticano, 11 jun 2015 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje no Vaticano a necessidade de aprofundar a luta contra a fome e sublinhou que a alimentação é um “direito de todos”, condenando a especulação financeira neste campo.
“Preocupam-nos, com justiça, as alterações climáticas, mas não podemos esquecer-nos da especulação financeira: um exemplo são os preços do trigo, do milho, da soja, que oscilam nas bolsas”, alertou, perante os participantes na 39ª conferência da FAO, organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura.
Francisco questionou os presentes sobre o impacto das “regras” do mercado na “fome do mundo” e apelou a uma mudança de fundo, reconhecendo o valor “sagrado” dos produtos da terra.
“São fruto do trabalho diário de pessoas, famílias, comunidades de agricultores. Um trabalho muitas vezes dominado por incertezas, preocupações pelas condições climáticas, ansiedade perante a possível destruição da colheita”, sublinhou.
O discurso denunciou a “usurpação” das terras de cultivo por parte de empresas transnacionais e países estrangeiros, o que afeta “diretamente a soberania” de muitas regiões, deixando a população local duplamente empobrecida, “porque não tem alimentos nem terra”.
O Papa lamentou que a “miséria” de muitos homens e mulheres, num tempo de crise, seja agravada pelas “dificuldades em aceder a alimentação regular e saudável”.
“Em vez de atua, no entanto, preferimos delegar, a todos os níveis”, observou.
Francisco desafiou a uma nova relação com os recursos naturais, “o uso do solo, o consumo, eliminando o desperdício”.
“Assim venceremos a fome”, vaticinou.
A intervenção aludiu ao desperdício de bens e à utilização de produtos agrícolas para outros fins, “que não são a necessidade imediata de quem passa fome”, como a alimentação de aninais ou a produção de biocombustíveis.
O Papa deixou votos de que seja possível mudar os “estilos de vida” e desafiou a comunidade internacional a prosseguir a luta contra a fome “sem segundas intenções”.
“A sobriedade não se opõe ao desenvolvimento, pelo contrário, hoje fica claro que se transformou numa condição para o mesmo”, prosseguiu.
Francisco falou ainda das consequências das alterações climáticas e das tragédias humanas por falta de água ou por deslocações forçadas das populações.
Em conclusão, o Papa sustentou que os recursos do planeta “são limitados” e que o seu uso sustentável é “absolutamente urgente para o desenvolvimento agrícola e alimentar”.
OC