Francisco passa em revista viagem à RD Congo e Sudão do Sul, evocando «continente colonizado, explorado e saqueado»
Cidade do Vaticano, 08 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje no Vaticano quem alimenta o “fogo” da guerra nos países africanos, ao recordar a sua visita de seis à República Democrática do Congo (RDC) e Sudão do Sul, concluída no domingo.
Falando aos participantes na audiência pública semanal, Francisco evocou a RDC como uma “terra rica em recursos e ensanguentada por uma guerra que nunca acaba, porque há sempre quem alimenta o fogo”
A intervenção aludiu, em particular, à região leste do Congo, “dilacerada pela guerra entre grupos armados, manobrados por interesses económicos e políticos”.
A violência impediu o Papa de cumprir uma etapa da viagem em Goma, pelo que a visita à RDC se realizou apenas na capital do país, Kinshasa.
“O povo vive no medo e na insegurança, sacrificado no altar de negócios ilícitos”, advertiu.
O Congo é como um diamante, pela sua natureza, pelos seus recursos e sobretudo pelo seu povo; mas este diamante tornou-se motivo de disputa, de violências e, paradoxalmente, de empobrecimento para o povo. Trata-se de uma dinâmica que se encontra também noutras regiões africanas, e que é válida para aquele continente em geral: um continente colonizado, explorado e saqueado”.
Francisco recordou que, na RDC, se dirigiu aos interesses que exploram o país, para dizer “basta” e exigir que “parem de explorar a África”.
O caminho, acrescentou, deve ser percorrido “juntos, com dignidade e respeito mútuo”.
A segunda etapa da viagem levou o Papa ao Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo – independente desde 2011 -, mas “vítima da antiga lógica do poder e da rivalidade, que produz guerra, violências, refugiados e deslocados internos”.
Francisco repetiu o “não” à corrupção e ao tráfico de armas, considerando “vergonhoso” o fornecimento de armamento para alimentar a guerra, por parte dos países mais desenvolvidos.
A visita foi recordada como uma “peregrinação de paz” de cariz ecuménico, com o arcebispo da Cantuária, Justin Welby, primaz da Comunhão Anglicana, e o moderador-geral da Igreja da Escócia (Presbiteriana), Iain Greenshields.
“Numa realidade altamente conflituosa, como a sul-sudanesa, este sinal é fundamental, e não é um dado adquirido, pois infelizmente há quem abuse do nome de Deus para justificar violências e abusos”, assumiu o Papa.
O Sudão do Sul, com cerca de 11 milhões de habitantes, tem 2 milhões de deslocados internos e outros 2 milhões de refugiados, nos países fronteiriços.
“Em particular, dirigi-me às mulheres – são corajosas, as mulheres de lá – que são a força que pode transformar o país; e encorajei todos a ser sementes de um novo Sudão do Sul, sem violência, reconciliado e pacificado”, disse Francisco.
Nas saudações aos peregrinos, o Papa evocou a celebração da memória litúrgica da santa sudanesa Josefina Bakhita (1869-1947), escrava que viria a ser libertada e a professar votos, como religiosa católica.
“Confiando na sua intercessão, rezemos por um futuro de justiça e paz para os nossos irmãos e irmãs em África”, apelou.
Francisco dirigiu-se aos peregrinos de língua portuguesa, com votos de que “tragam sempre no coração o amor de Jesus e a oração ao Pai celeste por todos os seus filhos, especialmente por quantos não têm paz”.
O encontro apontou ainda ao próximo Dia Mundial do Doente, a 11 de fevereiro, festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.
“Lembremo-nos dos nossos entes queridos doentes em oração, para que sejam rodeados de afeto e tenham a garantia de cuidados de saúde e acompanhamento espiritual. Também rezamos pelos profissionais de saúde e por todos aqueles que cuidam dos doentes”, declarou.
OC