Francisco questiona «vergonha» da guerra e pede nova abordagem, nas relações internacionais
Cidade do Vaticano, 24 mar 2022 (Ecclesia) – O Papa confessou-se hoje “envergonhado” com o anúncio do reforço do investimento em armas feito por vários países, perante o cenário da guerra na Ucrânia
“Fiquei envergonhado quando li que um grupo de Estados se comprometeu a gastar dois por cento ou dois por mil do PIB, não sei, em compras de armas, como resposta ao que está a acontecer agora. Uma loucura, não é?”, disse, durante um encontro com associadas do Centro Italiano Feminino, no Vaticano.
A 27 de fevereiro, a Alemanha anunciou um investimento anual de mais de 2% do PIB na Defesa, intenção que vem a ser estudada por outros países da NATO.
Francisco considerou que a “verdadeira resposta” à guerra “não são outras armas, outras sanções, outras alianças político-militares, mas outra abordagem, uma forma diferente de governar o mundo”, que aposte nas “relações internacionais”.
“Está claro que a boa política não pode vir da cultura do poder entendida como dominação e opressão, mas apenas de uma cultura de cuidado, cuidado com a pessoa, a sua dignidade, e cuidado com a nossa casa comum. Infelizmente, a guerra vergonhosa que estamos a testemunhar prova isso, negativamente”, sustentou.
Falando da guerra na Ucrânia, o Papa lamentou a “velha lógica do poder que ainda domina a chamada geopolítica”.
“Para aqueles que pertencem à minha geração, é insuportável ver o que aconteceu e está a acontecer na Ucrânia”, declarou.
Nunca faltaram guerras regionais, por isso eu disse que estávamos na terceira guerra mundial aos pedaços, certo? Um pouco por toda a parte, até chegar a esta, que tem uma dimensão maior e ameaça o mundo inteiro”.
Francisco considerou que, nos conflitos internacionais, o “problema básico” é o mesmo: “Continuamos a governar o mundo como um ‘tabuleiro de xadrez’, onde os poderosos estudam os movimentos para estender o seu domínio, em detrimento dos outros”.
Na sua saudação ao grupo do Centro Italiano Feminino, o Papa destacou que as mulheres “são as protagonistas dessa mudança de rumo”, para “converter o poder da lógica da dominação à do serviço, do cuidado”.
OC