Francisco encerrou reunião com cardeais indicando que a «admiração é um caminho de salvação», que os livra da tentação de «uma falsa segurança» de sentir a Igreja como uma «realidade diferente» da inicial, de uma realidade «missionária»
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Cidade do Vaticano, 30 ago 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou os novos cardeais, e restante Colégio Cardinalício, para a “falsa segurança” de sentirem que a Igreja “grande, sólida” de hoje “é diferente, não é como no início”, na Missa que presidiu na Basílica de São Pedro.
“A Palavra de Deus hoje desperta em nós admiração de estar na Igreja, de ser Igreja! E é isso que torna atraente a comunidade dos crentes, primeiro para si e depois para todos: O duplo mistério de ser abençoado em Cristo e ir com Cristo ao mundo”, disse o Papa, na homilia da Missa que encerrou dois dias de debate sobre a reforma na Cúria Romana.
Segundo Francisco, essa admiração “não diminui” nos cardeais com o passar dos anos, “nem diminui com o crescimento das responsabilidades na Igreja”: “Graças a Deus não. Fortalece-se, torna-se mais profunda”.
A partir do mandato missionário de Jesus aos discípulos – “Ide, fazei discípulos de todos os povos” – e a “promessa final, que “infunde esperança e consolação”, de estar com eles – “todos os dias, até ao fim dos tempos” -, do Evangelho de São Mateus (Mt 28, 19-20), o Papa salientou que “estas palavras ainda têm força para fazer vibrar” os corações, dois mil anos depois.
“Não acaba de nos maravilhar a insondável decisão divina de evangelizar o mundo a partir daquele miserável grupo de discípulos, que ainda estavam em dúvida. Mas, olhando mais de perto, não é diferente a admiração que nos invade se olharmos para nós, aqui reunidos, a quem o Senhor repetiu aquelas mesmas palavras, aquele mesmo envio”, desenvolveu.
“Esta admiração é um caminho de salvação”, acrescentou na homilia da celebração que presidiu com os novos cardeais, criados no consistório público de sábado.
O Colégio Cardinalício conta, desde sábado – dia do oitavo consistório do atual pontificado, para a criação de 20 cardeais – com 226 elementos, 132 dos quais eleitores num eventual Conclave.
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Francisco pediu que Deus “mantenha sempre viva” essa admiração, porque os “liberta da tentação” de se sentirem “’à altura’, de nutrir a falsa segurança de que hoje, na realidade, é diferente”, a Igreja não é como no início.
“Hoje a Igreja é grande, é sólida, e nos situamos nos graus eminentes da sua hierarquia… Sim, há alguma verdade nisso, mas também há tanto engano, com que o Mentiroso tenta mundanizar os seguidores de Cristo e torná-los inofensivos”, salientou, alertando para o “mundanismo espiritual”.
O Papa começou a homilia a contextualizar que as leituras da celebração, próprias da liturgia desta terça-feira, apresentam “uma dupla admiração”, a de São Paulo “perante o desígnio de salvação de Deus”, e dos discípulos, “no encontro com Jesus ressuscitado, que os envia em missão”.
Neste sentido, convidou a entrarem “nestes dois territórios, onde sopra forte o vento do Espírito Santo”, para que possam recomeçar a partir desta celebração, e da convocação dos cardeais, “mais capazes de ‘anunciar as maravilhas do Senhor a todos os povos’”.
Francisco afirmou também que devem ser muito gratos ao Papa São Paulo VI, “que soube transmitir este amor pela Igreja”, um amor que é reconhecimento, “uma grata admiração pelo mistério da Igreja e pelo dom de ser admitido n’Ela, de envolver-se, participar, e ainda ser corresponsável por Ela”.
CB/LS
![]() Esta Eucaristia encerrou a reunião, convocada pelo Papa Francisco, para debater a constituição ‘Praedicate Evangelium’, publicada a 19 de março deste ano, e que congregou 197 cardeais e patriarcas, esta segunda e terça-feira. A constituição apostólica ‘Praedicate evangelium’ (Pregai o Evangelho) propõe uma Cúria mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, rejeitando uma atenção exclusiva à gestão interna dos assuntos do Vaticano. Um comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA, no final do encontro de cardeais, a Santa Sé informa que os trabalho em grupos linguísticos e os debates na sala nova do sínodo permitiram “discutir livremente muitos aspetos” sobre o documento e a vida da Igreja, e a última sessão, na tarde desta terça-feira, foi dedicada ao Jubileu da Esperança, em 2025. O cardeal português D. José Tolentino Mendonça disse que a reunião refletiu sobre a “abertura da Cúria” a “fiéis leigos, homens e mulheres batizados”, “não consagrados” que ajudem no governo da Igreja. Segundo o bibliotecário e arquivista da Santa Sé, a Constituição apostólica «Predicarae Evangelium» é uma “tentativa de traduzir, também em chave pastoral” e “compreensível” para o tempo atual, o serviço que a Cúria romana desenvolve, não só em Roma, como nas Igrejas locais. |
Igreja: Sinodalidade e comunhão marcaram reunião de cardeais – D. José Tolentino Mendonça