«O arrivista é, em última análise, um traidor, não é um servidor» – Francisco
Cidade do Vaticano, 27 out 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou seminaristas e padres estudantes em Roma para o “perigo do arrivismo”, “o sacerdócio é um serviço sagrado a Deus”, num encontro com dez perguntas sobre acompanhamento espiritual, tecnologia/internet, discernimento, ciência e fé, e guerra.
“O arrivista é, em última análise, um traidor, não é um servidor. Ele busca o que lhe interessa e não faz nada pelos outros; e infelizmente na vida há muitos carreiristas”, disse Francisco, na Sala Paulo VI, no Vaticano.
Neste contexto dos “padres arrivistas”, que procuram fazer carreira, o Papa recordou que a avó, emigrante italiana na Argentina, dizia que tinham de “progredir” na vida, mas pedia “cuidado para não confundir progredir com arrivismo”.
“A única coisa que os arrivistas fazem é o ridículo, eles são ridículos. Isso fez-me bem na vida”, acrescentou, referindo que para um padre o importante é a comunhão, a participação e a missão, servir aos outros.
Francisco explicou que “o sacerdócio é um serviço sagrado a Deus”, “a Eucaristia é o mais alto grau”, um serviço à comunidade, e explicou aos seminaristas e padres que estudam em Roma que para não perder o cheiro das “ovelhas” é importante manter o “contacto com o povo, com o povo fiel de Deus, porque há a unção do povo de Deus”, mesmo que estejam empenhados nos estudos ou em trabalhos na Cúria.
O Papa recomendou experiências pastorais numa “paróquia, lar de crianças e jovens, ou idosos, seja o que for”, para não se perder “a capacidade de sentir o cheiro das ovelhas”, e tornar-se “um teórico, um bom teólogo, um bom filósofo, um bom curial que sabe fazer todas as coisas”.
Segundo Francisco, respondendo a uma pergunta sobre misericórdia, é necessário aprender a linguagem dos gestos que expressam proximidade e ternura, o que também se aplica às homilias, porque o estilo de Deus “é sempre proximidade, compaixão e ternura”.
“Quando não se é humano com gestos, a mente também endurece e na homilia dizem-se coisas abstratas que ninguém entende, alguém será tentado a sair para fumar um cigarro”, realçou, peindo que se expressem nas três linguagens que revelam “a maturidade de uma pessoa”, a cabeça, do coração e a linguagem das mãos.
Os seminaristas e padres também quiseram respostas ao diálogo entre ciência e fé, e Francisco disse que devem “fugir da contraposição”, porque é “um espírito ruim”, “o progresso humano fará a ciência avançar e também preservará a fé”, e sobre tecnologia alertou para os perigos da internet, como a pornografia online que “enfraquece a alma”.
Queridos irmãos, prestem atenção a isso. O coração puro, aquele que recebe Jesus todos os dias, não pode receber essas informações pornográficas, que estão na ordem do dia, hoje. E se puderem excluir isso do vosso telemóvel, excluam-no, para não ter a tentação à mão. E se não o puderes eliminar, defende-te bem para não entrar nisso, porque é algo que enfraquece a alma. Isso enfraquece a alma. Por aí entra o diabo: enfraquece o coração sacerdotal. Desculpem-me chegar a esses detalhes sobre a pornografia, mas é uma realidade, uma realidade que toca padres, seminaristas, religiosas, as almas consagradas”.
O encontro realizou-se no dia que se contabilizaram oito meses de guerra na Ucrânia, que começou a 24 de fevereiro, e Francisco afirmou que a Igreja, como uma mãe, sofre nas guerras “porque são a destruição dos filhos”, divulga o portal ‘Vatican News’.
“Deve sofrer, chorar, rezar. Deve ajudar as pessoas que foram atingidas, que perderam suas casas ou ficaram feridas pela guerra, mortes. A Igreja é mãe, e o papel antes de tudo é a proximidade com as pessoas que sofrem. É também uma mãe criativa da paz, neste caso, não está a ser muito fácil”, respondeu o Papa a um sacerdote ucraniano, realçando que “a Igreja Mãe deve estar perto de todos, de todas as vítimas” e é uma atitude cristã “rezar pelo pecado dos agressores”.
CB/OC