Francisco sustenta que reintegração dos divorciados recasados ultrapassa questão do acesso à Comunhão
Cidade do Vaticano, 13 mar 2015 (Ecclesia) – O Papa alertou em entrevista à televisão mexicana ‘Televisa’ para as “expectativas desmesuradas” em relação ao Sínodo sobre a família, em particular sobre a situação dos divorciados recasados.
Francisco explica que a questão da “reintegração” destes católicos na vida da comunidade vai para lá do acesso à Comunhão.
“Com isso não se resolve nada. O que a Igreja quer é que tu te integres na vida da Igreja”, declarou, numa conversa de cerca de hora e meia, divulgada hoje, dia em que se assinala o 2.º aniversário da eleição pontifícia.
O tema esteve em destaque nos trabalhos da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2014, e vai voltar a ser debatida em outubro deste ano, numa assembleia ordinária deste organismo consultivo, com representantes dos episcopados de todo o mundo.
Francisco assume como prioridade enfrentar a “crise” da família, que se manifesta também nos casos em que houve um “falhanço”, as segundas uniões, as famílias “replay” (repetição).
“Alguns dizem: ‘Não. Eu quero comungar e pronto’. Uma medalha, uma honorificência. Isso não”, alertou.
O Papa recordou que a atual disciplina canónica impede os católicos em segunda união de fazerem sete coisas, incluindo, além da Comunhão, o ser padrinhos de Batismo, questionando-se sobre esta matéria.
“Que testemunho pode dar ao afilhado? O testemunho de lhe dizer: ‘Olha, querido, eu errei na minha vida, agora estou nesta situação, sou católico, os princípios são estes. Eu faço isto e acompanho-te’. Testemunho da verdade”, adiantou.
O Papa recorda que, ao contrário destas pessoas, um “mafioso”, um delinquente ou assassino podem ser padrinhos, admitindo que existem “contradições” a este respeito.
Neste sentido, Francisco defende que a Igreja é chamada a “integrar” os católicos divorciados que se voltaram a casar e não “ensinar catequese”.
“Se eles acreditam, ainda que estejam numa situação que se dissolve, chamada irregular, reconhecem e aceitam essa situação, e sabem o que a Igreja pensa de tudo isso, não é impedimento. Quando falamos de integrar, é incluir tudo isso, depois acompanhar processos interiores”, observou.
O Papa mostra-se preocupado com a crise da família que vem “desde abaixo”, recordando que muitos jovens não se querem casar, mas vivem juntos.
“Há uma frise familiar dentro da família e desde esse ponto de vista penso que aquilo que o Senhor quer é que enfrentemos isso: preparação para o matrimónio, acompanhamento dos que convivem, acompanhamento dos que se casam e constroem bem a sua família, acompanhamento dos que fracassaram na família e fizeram uma nova união, preparação para o sacramento do Matrimónio”, defendeu.
O pontífice argentino espera que do Sínodo saiam “coisas muito claras, muito rápidas, que ajudem em toda esta crise familiar, que é total”.
Francisco recordou, tal como Bento XVI, que já muitos casamentos “nulos” por “falta de fé” e que se reduzem, por isso, a “acontecimentos sociais”.
Em relação aos trabalhos do Sínodo, o Papa argentino sustenta que os trabalhos têm de decorrer com “liberdade”, porque não é “uma conferência”, mas um “espaço protegido, no qual o Espírito Santo pode trabalhar”.
“É por isso que me oponho a que sejam publicadas as coisas que cada um diz, com nome e apelido. Não. Que não se saiba o que este disse. Não tenho problema em que se saiba o que se disse, mas não quem o disse”, explicou.
Como fez nas Filipinas, em janeiro deste ano, Francisco condenou a “colonização ideológica” da família, com imposição de modelos alheios às tradições de outros continentes, considerando-a “um problema muito sério”.
OC