Vaticano: Papa admite necessidade de aperfeiçoar normas relativas à renúncia pontifícia

Francisco diz preferir designação de «bispo emérito de Roma»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 12 jul 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco admitiu a necessidade de “regular melhor” a legislação canónica sobre a renúncia pontifícia, assumindo que prefere a designação de “bispo emérito de Roma”.

“A própria história vai obrigar a regular melhor”, realça, em entrevista à plataforma de streaming ViX da ‘Noticias Univision 24/7’.

O Papa sustenta que se deve “delimitar melhor as coisas, explicitar”.

O Código de Direito Canónico prevê a possibilidade jurídica de renúncia por parte do Papa e esta renúncia não precisa de ser aceite por ninguém para ter validade, como indica o cânone 332, desde que seja “feita livremente e devidamente manifestada”.

Em passagens da conversa, disponíveis no YouTube, Francisco elogia o seu antecessor, Bento XVI, que renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013.

“A primeira experiência correu muito bem, porque é um homem santo e discreto”, indica.

Questionado sobre o seu futuro após uma eventual renúncia, o Papa, de 85 anos de idade, descarta a possibilidade de continuar a residir no Vaticano.

“Isso não, com certeza”, declara, deixando de parte também um regresso à Argentina, sua terra natal.

“Eu sou o bispo de Roma, nesse caso eu seria o bispo emérito de Roma”, precisa.

Perante as perguntas das jornalistas mexicanas Maria Antonieta Collins e Valentina Alazraki, Francisco admite a hipótese de instalar-se em São João de Latrão, junto à Catedral da Diocese de Roma, e “ir confessar, numa igreja”.

O Papa recorda que, antes do último conclave, já tinha preparado a sua renúncia como arcebispo de Buenos Aires, que aconteceria em novembro de 2013, e iria passar a residir na Casa Sacerdotal, junto da sua paróquia de infância, para “confessar e visitar os doentes”.

“Estar ao serviço das pessoas onde for possível. Isso é o que eu pensava em Buenos Aires”, acrescentou, confessando que em Roma “gostaria de algo desse tipo”, se tiver condições físicas e mentais para prosseguir esse “apostolado”.

Eleito em março de 2013, Francisco descarta para já um cenário de final de pontificado, salvo em caso de morte.

“Nunca pensei renunciar, até ao dia de hoje”, indica, antes de observar que “a porta está aberta” pela decisão do seu predecessor.

“O exemplo que o Papa Bento (XVI) nos deu é tão grande que, se vir que não consigo, que faço mal ou atrapalho, espero tirar força desse exemplo”, observa.

Questionado sobre os rumores que, nas últimas semanas, sugeriram que estaria a preparar a renúncia, o Papa admite que os jornalistas tiveram motivos para a especulação, mas sublinha que a sua deslocação a Aquila, onde está sepultado Celestino V, e a convocação de um consistório, no final de agosto, foram uma “coincidência”.

“Neste momento, não sinto que o Senhor o peça [a renúncia], mas quando mo pedir, sim”, assinalou.

Em abril de 2009, Bento XVI realizou um gesto simbólico ao depositar o pálio – insígnia pessoal e de autoridade – junto da porta santa da Basílica de de Collemaggio, de Aquila (Itália), em cima do relicário com os restos mortais do Papa Celestino V (1215-1296), pontífice que governou a Igreja Católica apenas durante alguns meses, em 1294.

Francisco diz que, ainda que se sinta “limitado”, está a melhorar dos problemas no joelho, que o impediram de visitar o Congo e o Sudão do Sul, no início deste mês, projetando já a viagem ao Canadá (24-30 de julho).

A renúncia de Bento XVI ao pontificado, em 2013, foi apresentada pelo Vaticano como um facto “virtualmente sem precedentes” na história da Igreja Católica.

Antes do pontífice alemão, nenhum Papa tinha resignado nos últimos 600 anos, mas nos mais de 260 sucessores de São Pedro como bispo de Roma houve “pelo menos quatro” que deixaram o cargo.

As dúvidas ligam-se à falta de documentação que permita a reconstrução histórica da sucessão pontifícia, nos primeiros séculos do Cristianismo.

Um dos casos mais importantes de renúncia e o último antes de Bento XVI aconteceu em 1415, “quando a resignação do Papa Gregório XII (induzida pelo Concílio de Constância) favoreceu a recomposição do cisma do Ocidente”, divisão entre católicos que obedeciam ao Papa de Roma e ao ‘antipapa’ de Avinhão, fomentada por questões políticas.

As outras figuras ligadas à renúncia papal são Ponziano (235), Silvério (537) e Bento IX (1044), para além de Pietro del Morrone, São Celestino V.

OC

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Agência ECCLESIA

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