Francisco assinala que o crime «desfigura a humanidade da vítima» e «desumaniza quem realiza»
Cidade do Vaticano, 11 abr 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no encerramento de uma conferência internacional promovida pela Santa Sé que o tráfico de pessoas “danifica seriamente a humanidade como um todo”, destruindo a família humana “e até mesmo o Corpo de Cristo”.
“O tráfico constitui uma violação injustificável da liberdade e da dignidade das vítimas, dimensões constitutivas do ser humano desejado e criado por Deus, e, por isso, deve ser considerado um crime contra a humanidade”, afirmou na audiência a 200 participantes do encontro sobre tráfico de seres humanos.
No seu discurso, o Papa salientou que o tráfico de pessoas “desfigura a humanidade da vítima”, ofendendo sua liberdade e dignidade, mas, ao mesmo tempo, “desumaniza” quem o realiza “negando-lhes o acesso à ‘vida em abundância’””.
Francisco explicou que cada um “é criado para amar e cuidar dos outros” e alcança o “seu clímax no dom de si”, por isso, os culpados pelo “crime” de tráfico humano “causam danos não apenas aos outros”, mas também aos próprios.
Neste contexto, destacou que “toda a escolha contrária à realização do projeto de Deus” é uma “traição à humanidade” e renuncia à “vida em abundância” oferecida por Jesus Cristo: “Está a descer a escada, descendo, tornando-se animais”.
Segundo o Papa, todas as ações que propõem “restaurar e promover” a humanidade de cada um e a dos outros “estão alinhadas com a missão da Igreja”, um valor missionário “evidente na luta contra todas as formas de tráfico e no compromisso com o resgate dos sobreviventes”.
“Uma luta e um compromisso que também tem efeitos benéficos para a nossa própria humanidade, abrindo o caminho para a plenitude da vida, o fim último da nossa existência”, acrescentou.
Promovida pela secção ‘Migrantes e Refugiados’, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), a conferência internacional começou esta terça-feira, dia 9, para colocar em prática as Orientações pastorais sobre o Tráfico de Pessoas, que foram aprovadas pelo Papa argentino e publicadas a 17 de janeiro.
Para Francisco, as “numerosas iniciativas” na linha de frente para prevenir o tráfico, proteger os sobreviventes e processar os infratores “merecem admiração”, onde se destacam “muitas congregações religiosas” que trabalharam, “mesmo online”, como “‘avant-garde’ da ação missionária da Igreja contra todas as formas de tráfico”.
“Agradeço sinceramente em nome de tantos irmãos e irmãs, vítimas inocentes da mercantilização da pessoa humana; Encorajo-vos a perseverar nesta missão, muitas vezes arriscada e anónima”
Na sua intervenção, o Papa observou que para ter uma “ação mais adequada e eficaz”, a Igreja Católica “deve saber utilizar a ajuda” de outros atores políticos e sociais.
Para Francisco, “a mesma gravidade” do tráfico de pessoas, “por analogia”, deve ser atribuída “a todo o desprezo pela liberdade e dignidade de todo ser humano”, sejam compatriotas ou estrangeiros.
O Papa começou a sua intervenção a citar o Evangelho de São João (10,10) – “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” – e explicou que a frase resume a missão de Jesus que é “oferecer a todos os homens e mulheres de todas as idades a vida em plenitude”.
“Infelizmente, o mundo atual é tristemente caracterizado por situações que impedem o cumprimento dessa missão”, observou Francisco, no discurso publicado online pela Santa Sé.
No dia 5 de abril, o Vaticano lançou uma campanha multimédia, com mensagens do Papa, para sensibilizar as comunidades católicos para a proteção dos migrantes e refugiados, no âmbito do 105.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado (29 de setembro).
CB