Vaticano: «Nunca se deve matar em nome de Deus», diz Francisco

Papa denuncia martírio e perseguição de cristãos, na atualidade, evocando exemplo das Missionárias da Caridade no Iémen

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 19 abr 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que ninguém pode justificar atos de violência com a sua religião, denunciando o martírio e perseguição de cristãos, na atualidade.

“Nunca se deve matar em nome de Deus, pois para Ele somos todos irmãos e irmãs. Mas juntos podemos dar a vida pelos outros”, sustentou, durante a audiência pública semanal que reuniu milhares de pessoas na Praça de São Pedro.

Francisco considerou que “há perseguições contra os cristãos no mundo, muitas”.

“Há mais mártires, hoje, do que nos primeiros tempos”, declarou.

Segundo a 30ª edição do Relatório da World Watch List, sobre os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos, divulgado em janeiro, 5621 cristãos foram mortos, 4542 presos e 5259 sequestrados, em 2022.

O documento, editado pela Open Doors Onlus e divulgado pelo portal de notícias do Vaticano, refere que mais de 360 milhões de cristãos sofrem um “alto nível de perseguição e discriminação” por causa da sua fé.

“Hoje recordamos todos os mártires que acompanharam a vida da Igreja. Como eu já disse muitas vezes, eles são mais numerosos no nosso tempo do que nos primeiros séculos. Hoje há muitos mártires na Igreja, muitos, porque, por confessarem a fé cristã, são afastados da sociedade, presos… São muitos!”, explicou o Papa.

Segundo Francisco, os mártires mostram que “cada cristão é chamado ao testemunho da vida, até quando não chega à efusão do sangue, fazendo de si mesmo um dom a Deus e aos irmãos, à imitação de Jesus”.

A intervenção recordou, em particular, o exemplo das Missionárias da Caridade, congregação religiosa fundada por Santa Teresa de Calcutá, no Iémen, país “ferido por uma guerra terrível, esquecida, que causou tantos mortos e ainda hoje faz sofrer tantas pessoas, especialmente crianças”.

As religiosas, observou o Papa, “arriscam a sua vida” para manter a sua presença e ajudar doentes e pessoas com deficiência, de qualquer religião, “porque a caridade e a fraternidade não têm fronteiras”.

Em julho de 1998, a irmã Aletta, a irmã Zelia e a irmã Michael, a caminho de casa depois da missa, foram mortas por um fanático, por serem cristãs. Mais recentemente, pouco depois do início do conflito ainda em curso, em março de 2016, a irmã Anselm, a irmã Marguerite, a irmã Reginette e a Irmã Judith foram mortas, com alguns leigos que as ajudavam na obra de caridade no meio dos últimos. São os mártires do nosso tempo”.

Francisco recordou que, entre as pessoas assassinadas em 2016, havia muçulmanos que trabalhavam com as religiosas católicas.

“É comovente ver que o testemunho do sangue pode aproximar pessoas de diferentes religiões”, afirmou.

O Papa falou de um “exército de mártires, homens e mulheres de todas as idades, línguas e nações” que, na história da Igreja, “deram a vida por Cristo”.

“Contudo, os mártires não devem ser vistos como heróis que agiram individualmente, como flores que brotaram num deserto, mas como frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor, que é a Igreja”, sustentou.

Foto: Lusa/EPA

Francisco deixou votos de que os santos e santas mártires sejam “sementes de paz e de reconciliação entre os povos, por um mundo mais humano e fraterno”.

No final da audiência geral, o Papa saudou os peregrinos de língua portuguesa, presentes no Vaticano.

“Nunca deixeis que eventuais nuvens sobre o vosso caminho vos impeçam de irradiar a glória e a esperança semeadas em vós, louvando sempre ao Senhor em vossos corações e dando graças por tudo ao Pai do Céu”, disse.

Francisco deixou ainda uma palavra para as vítimas da guerra na Ucrânia, pedindo orações por elas.

“Perseveremos na proximidade e na oração pela querida e martirizada Ucrânia, que continua a suportar terríveis sofrimentos”, apelou.

OC

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Agência ECCLESIA

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