Vaticano: Novo responsável pelos religiosos teme influência do individualismo

Arcebispo João Braz de Aviz fala também do legado deixado pela «teologia da libertação»

Cidade do Vaticano, 02 Fev (Ecclesia) – O arcebispo brasileiro João Braz de Aviz, novo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, alertou para os perigos do individualismo e do relativismo nestas instituições.

“A influência do individualismo e do relativismo no nosso tempo atingiu, pelo menos em parte, também alguns âmbitos da vida consagrada, diminuindo o seu vigor”, refere o membro da Cúria Romana, em entrevista ao jornal do Vaticano, «L’Osservatore Romano».

No dia em que a Igreja Católica celebra, em todo o mundo, o Dia do Consagrado, D. João Braz de Aviz admite que “várias ordens e congregações estão a assistir a uma diminuição das vocações, ao envelhecimento dos seus membros e, em muitos casos, a uma diversidade de orientações no seio da própria família religiosa”.

Este responsável sublinha que os religiosos e religiosas não são os únicos a “experimentar a diminuição das vocações”, que considera “um fenómeno mais amplo”, particularmente sentido na Europa.

Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Vaticano, as religiosas são quase 74 mil, em todo o mundo, enquanto os religiosos são cerca de 170 mil (135 mil padres e 54 mil irmãos).

Em Portugal, as religiosas são mais de 5400 e os religiosos mais de 1500.

O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica considera que “a fidelidade aos fundadores e a comunhão profunda com a Igreja poderão voltar a dar à vida consagrada um maior esplendor, ao serviço da própria Igreja e da humanidade”.

Na entrevista, publicada na edição em italiano de 2 de Fevereiro do «Osservatore Romano», D. João Braz de Aviz fala sobre o desenvolvimento da chamada teologia da libertação, lembrando que o falecido Papa João Paulo II (1920-2005) afirmou que a mesma “não só é útil, mas também necessária”.

“A opção preferencial pelos pobres é uma opção evangélica da qual dependerá, em primeiro lugar, a nossa própria salvação. A sua descoberta e construção por parte da teologia da libertação representaram um olhar sincero e responsável da Igreja sobre o vasto fenómeno da exclusão social”, referiu.

O arcebispo brasileiro disse acreditar que “ainda não foi suficientemente completado o trabalho teológico para desvincular a opção pelos pobres da sua dependência de uma teologia da libertação ideológica, tal como advertiu recentemente Bento XVI”.

O membro da Cúria Romana declarou que “os religiosos e as religiosas, com a radicalidade da sua vocação evangélica, podem colaborar em muito para este novo percurso”.

Num registo mais pessoal, D. João Braz de Aviz confessa que “por pouco” não abandonou a sua “vocação sacerdotal” e a própria Igreja nos anos do nascimento da teologia da libertação.

Em 1984, o então cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, assinou um documento sobre a teologia da libertação – corrente ideológica com grande importância na América Latina nos anos 70 e 80 do século passado –, condenado “os desvios e perigos de desvio, prejudiciais à fé e à vida cristã, inerentes a certas formas da teologia da libertação que usam, de maneira insuficientemente crítica, conceitos assumidos de diversas correntes do pensamento marxista”.

OC

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Agência ECCLESIA

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