Organismo liderado pelo cardeal Giuseppe Petrocchi admite várias sensibilidades, mas exclui possibilidade de alargar sacramento da Ordem às mulheres

Cidade do Vaticano, 04 dez 2025 (Ecclesia) – A segunda comissão de estudo sobre o diaconado feminino reafirmou hoje o “não” à possibilidade de alargar sacramento da Ordem às mulheres, num relatório divulgado hoje pelo Vaticano, após quatro anos de trabalho.
O texto, publicado por indicação de Leão XIV, admite, no entanto, que neste momento é impossível “formular um julgamento definitivo, como no caso da ordenação sacerdotal”.
“O estado da questão em volta da pesquisa histórica e da investigação teológica, consideradas nas suas implicações mútuas, exclui a possibilidade de avançar na direção da admissão das mulheres ao diaconado entendido como grau do sacramento da Ordem”, indica o relatório, enviado à Agência ECCLESIA.
O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.
“As questões relativas à ordenação diaconal das mulheres permanecem em aberto para futuros aprofundamentos teológicos e pastorais, mantendo-se o princípio da ‘communio hierarchica’ [comunhão hierárquica] que atribui a decisão final sobre estas questões ao Magistério da Igreja, como resposta autorizada às questões presentes em alguns setores do Povo de Deus”, assinala o novo relatório.
| Uma primeira comissão para o estudo do diaconado feminino, anunciada a 12 de maio de 2016, veio a revelar-se inconclusiva, tendo Francisco descartado mudanças no futuro imediato.
Em 2020, o Papa Francisco decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, na sequência do Sínodo especial para a Amazónia, que começou a trabalhar em 2021. O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio. Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas. |
A segunda comissão de estudos foi presidida pelo cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo emérito de L’Aquila, na Itália, e concluiu os seus trabalhos em fevereiro passado.
O relatório, de oito páginas, foi enviado a Leão XIV no último dia 18 de setembro passado e é agora tornado público por vontade do Papa.
O cardeal Petrocchi sublinha, nas conclusões, que existe “uma intensa dialética” entre duas orientações teológicas.
A primeira afirma que a ordenação do diácono é para o ministério e não para o sacerdócio, o que “abriria o caminho para a ordenação de diaconisas”.
A segunda, por outro lado, insiste “na unidade do sacramento da ordem sagrada, juntamente com o significado esponsal dos três graus que a constituem, e rejeita a hipótese do diaconado feminino”.
Para o presidente da comissão, é indispensável “uma análise crítica rigorosa e alargada sobre o diaconado em si mesmo, ou seja, sobre a sua identidade sacramental e a sua missão eclesial, esclarecendo alguns aspetos estruturais e pastorais que atualmente não estão totalmente definidos”.
O relatório recorda que, em várias partes da Igreja, o ministério diaconal é “quase inexistente” e noutros locais assume missões que, muitas vezes, “coincidem com os papéis próprios dos ministérios leigos ou dos ministrantes na liturgia”.
A primeira comissão já tinha concluído que a Igreja reconheceu o título de “diácono/diaconisa” em diferentes épocas e lugares, mas com um “significado não unívoco”.
O consenso mais forte nesta segunda comissão, com nove votos a favor e um contra, registou-se na recomendação de alargar “o acesso das mulheres aos ministérios instituídos para o serviço da comunidade”.
Este passo deve garantir “um reconhecimento eclesial adequado à diaconia dos batizados, em particular das mulheres”, sendo visto como um “sinal profético”, especialmente onde as mulheres sofrem situações de discriminação de género.
É necessário, além disso, sublinhar que as diferentes Comissões foram unânimes em assinalar a necessidade de ampliar os ‘espaços de comunhão’ para que as mulheres possam expressar uma participação adequada e uma corresponsabilidade nos centros de decisão da Igreja, também através da criação de novos ministérios laicais.”
Num comentário pessoal, o cardeal Petrocchi sustenta que “as declarações contraditórias das ‘escolas’ teológicas e a falta de convergência sobre polaridades doutrinárias e pastorais fundamentais motivam, na minha opinião, a manutenção de uma linha de avaliação prudente sobre o tema do diaconado feminino”.
O responsável recomenda investigações de “alcance global”, com “sabedoria e visão de futuro, para sondar estes horizontes eclesiais”.
O atual Papa recordou, na primeira entrevista do pontificado, que a questão vem sendo estudada há “muitos anos”, perspetivando que “continuará a ser um problema”.
“Por que falaríamos em ordenar mulheres ao diaconato se este, em si mesmo, ainda não é bem compreendido e não foi adequadamente desenvolvido e promovido dentro da Igreja?”, questionava Leão XIV, em declarações ao portal norte-americano ‘Crux’.
O pontífice descartou qualquer “intenção de mudar o ensinamento da Igreja sobre o assunto”.
OC
| O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado em outubro de 2024, dedicou um número específico ao ministério das mulheres, o qual mereceu o maior número de votos contra.
“Não há nenhuma razão para que as mulheres não assumam papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. É necessário um maior discernimento a este respeito”, refere o ponto 60 do texto, que recebeu 258 votos a favor e 97 contra. Em fevereiro de 2024, Francisco decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho. O grupo 5 é dedicado a “questões teológicas e canonísticas relativamente a específicas formas ministeriais”, em particular sobre a participação das mulheres nos processos de decisão e liderança comunitária. |
