Sínodo 2024: «Pensar no diaconado para algumas mulheres não resolve a questão dos milhões de mulheres na Igreja» – Cardeal Victor Fernández

Prefeito da Doutrina da Fé reforça ideia de que «ordenação de diaconisas não é a resposta mais importante»

Cidade do Vaticano, 21 out 2024 (Ecclesia) – O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé) rejeitou hoje, na sessão do Sínodo que decorre no Vaticano, que se decida com “pressa” relativamente ao diaconado feminino, na Igreja Católica.

“A pressa em pedir a ordenação de diaconisas não é a resposta mais importante para a promoção das mulheres hoje”, referiu o cardeal Victor Fernández, na reunião desta manhã, dia em que foi apresentado o projeto de documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.

“Pensar no diaconado para algumas mulheres não resolve a questão dos milhões de mulheres na Igreja”, prosseguiu, numa intervenção posteriormente divulgada pelo Vaticano e enviada à Agência ECCLESIA.

Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho.

Na abertura dos trabalhos, a 2 de outubro, o cardeal Víctor Fernández apresentou um relatório sobre o grupo 5 – dedicado a “questões teológicas e canonísticas relativamente a específicas formas ministeriais”, em particular sobre a participação das mulheres nos processos de decisão e liderança comunitária.

Uma primeira comissão para o estudo do diaconado feminino, anunciada a 12 de maio de 2016, veio a revelar-se inconclusiva, tendo Francisco descartado mudanças no futuro imediato.

Em 2020, o Papa decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, na sequência do Sínodo especial para a Amazónia.

O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.

Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé descartou mudanças, no imediato, pedindo apoio dos participantes no Sínodo para definir “possíveis caminhos para a participação das mulheres na liderança da Igreja”.

“O Papa expressou que, neste momento, a questão do diaconado feminino não está madura e pediu que não nos debrucemos sobre essa possibilidade agora”, acrescentou o cardeal Fernández.

O colaborador de Francisco insistiu num desenvolvimento de propostas “sem se concentrar na ordem sagrada”, falando em “passos” que podem ser dados, como o ministério de catequistas que “apoiam as comunidades na ausência de padres, mulheres que são responsáveis, lideram comunidades e desempenham várias funções”.

“O acolitado para as mulheres foi concedido numa pequena percentagem nas dioceses, e muitas vezes são os padres que não querem apresentar as mulheres ao bispo para este ministério”, acrescentou.

A intervenção abordou ainda a ausência de responsáveis de topo do Dicastério para a Doutrina da Fé num encontro com os participantes no Sínodo, na última sexta-feira, para abordar o andamento do grupo de trabalho 5, coordenado pelo secretário doutrinal (padre Armando Matteo), ausente por motivos médicos.

O cardeal Fernández anunciou um novo encontro, para a próxima quinta-feira, destinado a “ouvir ideias sobre o papel da mulher na Igreja”, apresentando mais elementos sobre o grupo de trabalho e os peritos que fazem parte do mesmo.

Já a comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, criada em 2020 sob a presidência do cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo de Áquila (Itália), vai continuar em funcionamento.

No encontro diário com jornalistas, a respeito dos trabalhos desta segunda sessão sinodal, o cardeal Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha (Itália), considerou que neste processo “não há problemas que são postos de lado, que são postos em ponto morto ou que são censurados”.

Timothy Radcliffe, assistente espiritual desta Assembleia Sinodal, admitiu que muitos participantes ainda sentem “dificuldade” em perceber o objetivo deste encontro, falando ainda da “tentação da imprensa de procurar decisões, manchetes gigantescas”, em vez de considerar “a profunda renovação da Igreja em novas situações”.

A irmã Nathalie Becquart, subsecretária da Secretaria-Geral do Sínodo, destacou as possibilidades já existentes para valorizar o papel das mulheres nas comunidades católicas, sublinhando o exemplo dado pela própria assembleia, onde as participantes exercem vários cargos de responsabilidade.

“Estou convencida de que podemos avançar passo a passo e alcançar resultados concretos, para que possamos compreender que não há nada que impeça as mulheres de desempenhar papéis importantes na Igreja”, observou.

OC

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

Esta sessão da Assembleia Sinodal tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

 

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Agência ECCLESIA

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