Francisco une-se a encontro digital de Movimentos Populares dos cinco continentes, para projetar pós-pandemia
Cidade do Vaticano, 16 out 2021 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que a repetição dos modelos socioeconómicos do passado, no pós-pandemia, seria “verdadeiramente suicida”, rejeitando qualquer política “ecocida e genocida”.
“Não estamos condenados a repetir nem a construir um futuro baseado na exclusão e na desigualdade, no descarte ou na indiferença, onde a cultura do privilégio seja um poder invisível e incontrolável e a exploração e o abuso sejam um método habitual de sobrevivência. Não!”, referiu Francisco, num vídeo enviado aos participantes da segunda fase do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, que decorreu esta tarde, em formato digital, com representantes dos cinco continentes.
A intervenção reforçou a centralidade dos “três T” que o pontífice tem repetido junto destes responsáveis, o direito a “terra, teto e trabalho”.
O Papa destacou que a pandemia levou a humanidade a “pontos de não retorno”, colocando a descoberto as desigualdades sociais e a “angustiante situação” de milhões de pessoas.
Falando em espanhol, durante quase 40 minutos, Francisco elogiou os Estados que “escutaram a ciência e conseguiram impor limites para garantir o bem comum”, apesar dos confinamentos, mas lamentou que muitos tenham ficado, durante os vários confinamentos, sem “medidas mínimas de cuidado e proteção”.
“Os migrantes, os indocumentados, os trabalhadores informais sem salários fixos viram-se privados, em muitos casos, de qualquer ajuda estatal e impedidos de realizar as suas tarefas habituais, agravando assim a sua já tão dolorosa pobreza”, recordou.
O Papa falou da “pandemia silenciosa” do stress e da ansiedade crónica que afetam as novas gerações, agravada pela dependência da tecnologia, e do “flagelo da crise alimentar”, com mais 20 milhões de pessoas “arrastadas para níveis extremos de insegurança alimentar”.
É possível que o número anual de mortes por causas ligadas à fome possa exceder as provocadas pela Covid, mas isso não é notícia. Isso não gera empatia”.
Francisco destacou que a humanidade “não se constrói virando as costas ao sofrimento” alheio, saudando todos os que se multiplicaram em atos de solidariedade, juntamente com os médicos, enfermeiros e pessoal de saúde”.
“Se todos os que, por amor, lutaram juntos contra a pandemia pudessem também sonhar juntos um mundo novo, que diferente seria tudo”, apontou.
Este quarto encontro com os Movimentos Populares foi precedido de uma reunião de trabalho no último mês de julho, que debateu o impacto da pandemia sobre os trabalhadores mais pobres.
“É imprescindível também ajustar os nossos modelos socioeconómicos para que tenham um rosto humano, algo que tantos modelos perderam”, lamentou.
O Papa realçou que a crise pandémica não vai deixar ninguém “igual” e apelou a uma mobilização coletiva, dando como exemplo os protestos pela morte de George Floyd, nos EUA.
“Há que escutar as periferias, abrir-lhe as portas e permitir-lhes participar. Entende-se melhor o sofrimento do mundo junto dos que sofrem”, acrescentou.
Francisco despediu-se com uma palavra de apoio aos que procuram “colocar a economia ao serviço dos povos para construir uma paz duradoura, assente na justiça social e no cuidado da Casa Comum”.
“Continuem a promover a sua agenda de terra, teto e trabalho. Continuem a sonhar juntos. E obrigado, obrigado mesmo, obrigado por me deixarem sonhar com vocês”, concluiu.
O IV Encontro Mundial dos Movimentos Populares é promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, da Santa Sé.
OC