Vaticano: «Na Igreja há lugar para todos», defende Francisco, pedindo «portas abertas» para acolher em vez de condenar (c/fotos)

Entrega do pálio aos novos arcebispos, incluindo D. José Cordeiro, sublinha importância do Sínodo 2021-2023 na transformação das comunidades católicas

Cidade do Vaticano, 29 jun 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje à Missa da solenidade de São Pedro e São Paulo, no Vaticano, defendendo perante responsáveis católicos de todo o mundo que na Igreja “há lugar para todos”.

“Ide aos cruzamentos e tragam todos: cegos, surdos, coxos, doentes, justos, pecadores, todos. Todos. Esta palavra do Senhor deve ressoar na mente e no coração. Todos. Na Igreja há lugar para todos, mas tantas vezes tornamo-nos uma Igreja de portas abertas para dispensar pessoas, para condenar pessoas”, disse, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro, com a entrega do pálio a 32 arcebispos de vários países, incluindo D. José Cordeiro, arcebispo de Braga.

Francisco, que se manteve numa cadeira junto ao altar, devido às dificuldades em movimentar-se, evocou a conversa que teve com um dos arcebispos, esta quarta-feira: “Para a Igreja, este não é o tempo das despedidas, é o tempo do acolhimento”.

“Todos. Todos. ‘Mas são pecadores’… Todos”, insistiu.

A homilia evocou a realização da Sínodo 2021-2023, atualmente na sua fase diocesana, sublinhando que este processo quer apresentar “uma Igreja que se ergue em pé, não dobrada sobre si mesma, capaz de olhar mais além, de sair das suas prisões para ir ao encontro do mundo.”.

Uma Igreja livre e humilde, que se ergue depressa, que não adia, não acumula atrasos face aos desafios de hoje, não se demora nos recintos sagrados, mas deixa-se animar pela paixão do anúncio do Evangelho e pelo desejo de chegar a todos, e a todos acolher. Não esqueçamos esta palavra: todos”, afirmou Francisco.

Uma Igreja sem correntes nem muros, onde cada qual se possa sentir acolhido e acompanhado, onde se cultive a arte da escuta, do diálogo, da participação, sob a única autoridade do Espírito Santo”.

O Papa identificou “muitas resistências” à mudança, na Igreja, alertando para o risco de “ir sobrevivendo”, na vida pastoral, muitas vezes marcada pela “tibieza e inércia”.

Francisco convidou cada um a questionar-se sobre o que pode “fazer pela Igreja”, em vez de a criticar.

“Igreja em processo sinodal significa que todos participam, ninguém no lugar dos outros ou acima dos outros. Não há cristãos de primeira ou segunda classe. Todos, todos são chamados”, precisou.

A intervenção apontou, em particular, à necessidade de uma ação dos católicos para superar “os mecanismos humanos do poder, do mal, da violência, da corrupção, da injustiça, da marginalização”.

Que podemos fazer juntos, como Igreja, para tornar o mundo em que vivemos mais humano, mais justo, mais solidário, mais aberto a Deus e à fraternidade entre os homens?”

Francisco alertou para “discussões estéreis” e o clericalismo, que é uma perversão”, na Igreja, propondo uma “cultura do cuidado”, marcada pela “compaixão pelos frágeis e a luta contra toda a forma de degradação”.

“Juntos, podemos e devemos fazer gestos cuidadores a bem da vida humana, da tutela da criação, da dignidade do trabalho, dos problemas das famílias, da condição dos idosos e de quantos se veem abandonados, rejeitados e desprezados”, indicou.

Os pálios estavam desde a noite anterior junto do túmulo do apóstolo Pedro, o primeiro Papa da Igreja Católica, e foram transportados durante a celebração para junto de Francisco, que os abençoou e os entrega a cada arcebispo, no final da Missa.

Foto: Vatican Media

Após a bênção dos pálios, os metropolitas nomeados nos últimos 12 meses proferiram um juramento no qual se comprometem a ser “sempre fiel e obediente” ao “bem-aventurado Pedro apóstolo”, à “santa, apostólica Igreja de Roma”, ao Papa e seus “legítimos sucessores”.

Esta insígnia é feita com a lã de dois cordeiros brancos benzidos pelos Papas na memória litúrgica de Santa Inês, a 21 de janeiro, e simboliza o Bom Pastor que leva nos ombros o cordeiro até dar a sua própria vida, como recordam as cruzes negras bordadas.

A solenidade de São Pedro e São Paulo foi acompanhada no Vaticano por uma delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), como é tradição.

“Obrigado pela vossa presença! Caminhemos juntos, porque, só juntos, podemos ser semente de Evangelho e testemunhas de fraternidade. Pedro e Paulo intercedam por nós, pela cidade de Roma, pela Igreja e pelo mundo inteiro”, concluiu o Papa.

OC

Em 2015, Francisco decidiu modificar a celebração de entrega aos novos arcebispos metropolitas, deixando de impor esta insígnia no Vaticano, uma tarefa agora confiada aos núncios apostólicos (representantes diplomáticos da Santa Sé).

O pálio é envergado pelos arcebispos metropolitas nas suas dioceses e nas da sua província eclesiástica.

Este sistema administrativo veio da divisão civil do Império Romano, depois da paz de Constantino (313); em Portugal há três províncias eclesiásticas: Braga, Lisboa e Évora.

A cerimónia da imposição do pálio a D. José Cordeiro, pelas mãos do núncio apostólico, D. Ivo Scapolo, vai decorrer a 10 de julho, pelas 15h30, na Catedral de Braga.

 

 

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Agência ECCLESIA

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