Francisco questiona quem pensa nas comunidades católicas como uma empresa
Cidade do Vaticano, 14 abr 2021 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje no Vaticano quem propõe “mudanças eclesiais” sem referências espirituais, confiando apenas nos resultados da sua própria discussão.
“Estão todas as organizações, estão os media que informam tudo, mas a oração não se vê, não se reza”, referiu Francisco, falando em “certos grupos que se colocam de acordo, para levar por diante reformas eclesiais, mudanças na vida da Igreja”.
A intervenção, incluída no ciclo semanal de catequeses que o pontífice tem dedicado à oração, alertou mesmo para a intervenção do “maligno” na tentativa de “secar as fontes” da vida eclesial.
“As mudanças na Igreja, sem a oração, não são mudanças de Igreja, são mudanças de grupo”, indicou.
Francisco citou o Evangelho de Lucas para repetir uma “pergunta dramática” de Jesus: ‘Quando o Filho do Homem vier, encontrará porventura a fé sobre a terra?».’ (Lc 18, 8).
“Ou encontrará apenas organizações, como se fosse um grupo de empreendedores da fé, todos bem organizados, que fazem beneficência?”, questionou.
Se a oração parar, durante algum tempo parece que tudo pode continuar como habitualmente, por inércia; pouco tempo depois, a Igreja percebe que se torna como que um invólucro vazio, que perdeu o seu eixo central, que já não possui a fonte do calor e do amor”.
O Papa apresentou a Igreja como uma “grande escola de oração”, que começa ao “colo dos pais ou dos avós”.
“Aquele dom, que recebemos na infância com simplicidade, compreendemos que é um património grande, um património riquíssimo, e que a experiência da oração merece ser aprofundada cada vez mais”, acrescentou.
Francisco destacou que a fé cresce “até através dos momentos de crise e ressurreição”.
A intervenção destacou o papel dos mosteiros, conventos e eremitérios como “centros de irradiação espiritual”, na Igreja e na sociedade, evocando o impacto do monaquismo “no nascimento e no crescimento da civilização europeia”.
“Pequenos oásis em que se partilha uma oração intensa e se constrói a comunhão fraterna dia após dia”, realçou.
“Rezar e trabalhar em comunidade faz avançar o mundo. É um motor”, acrescentou.
O Papa sustentou que, na vida da Igreja, “tudo cresce graças à oração”, que ilumina o “caminho para evangelizar”.
“Sem fé, tudo se desmorona; sem a oração, a fé apaga-se”, alertou.
No final da audiência, Francisco deixou uma saudação aos ouvintes de língua portuguesa.
“Desejo que eventuais nuvens sobre o vosso caminho não vos impeçam jamais de irradiar e enaltecer a glória e a esperança depositadas em vós, cantando e louvando sempre ao Senhor em vossos corações, dando graças por tudo a Deus Pai. Assim Deus vos abençoe”, declarou.
OC
Também hoje, o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, recorreu ao Twitter para lançar uma mensagem sobre o “estilo sinodal”.
“Não podemos celebrar um Sínodo se não houver um estilo sinodal (entendido como mentalidade e prática) na Igreja. Podemos ter sinodalidade sem um Sínodo, mas não podemos ter um Sínodo sem sinodalidade”, escreveu. |