Vaticano II marcou ponto de «não retorno»

Cardeal Saraiva Martins assinala 50.º aniversário da abertura do último Concílio da Igreja Católica, uma «celebração da esperança»

Lisboa, 09 out 2012 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Saraiva Martins defende que o Concílio Vaticano II (1962-1965) marcou um ponto de “não retorno” na dinâmica contemporânea da Igreja Católica e recorda o acontecimento como uma “celebração da esperança”.

“Em primeiro lugar e mais do que uma série de documentos, o Concílio foi um acontecimento que sacudiu as consciências e foi marco incontornável de ‘não retorno’”, refere o prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, organismo da Santa Sé, num testemunho hoje publicado no Semanário Agência ECCLESIA.

O responsável evoca os 50 anos da abertura do Concílio, a 11 de outubro de 1962, e as sessões de trabalho que se lhe seguiram, com mais de 2000 bispos de todo o mundo, das quais resultaram, disse, “mudanças e transformações, que não é exagerado definir como ‘de época’”.

“Com um novo olhar para os valores humanos, com a inteligente abertura ecuménica e inter-religiosa, com a disponibilidade em colaborar com todos, a Igreja demonstrava, uma vez mais, a extraordinária capacidade de deixar de olhar somente para si própria, para abrir-se a formas novas de diálogo com o mundo”, refere D. José Saraiva Martins.

O cardeal recorda que o clima então criado não deixava espaço para o “abster-se” e que “um sentido de otimismo dava forma à construção possível de um mundo melhor para todos”.

Historicamente, acrescenta, o Concílio Vaticano II apresentou-se de modo “original e diverso” dos anteriores, porque a Igreja decidiu refletir sobre “si mesma” para reafirmar a sua “verdadeira Identidade”.

“Como se poderá facilmente imaginar, o Vaticano II não apareceu do nada, mas era antes, e entre outros, o resultado do trabalho do Espírito em tantos movimentos teológicos, espirituais, pastorais e culturais”, lembra o membro da Cúria Romana, que há 50 anos era um jovem sacerdote e professor de teologia na Universidade Pontifícia Urbaniana.

Nessa altura, sublinha, os debates que da aula conciliar ressoavam nas conversas entre amigos e colegas: “A descoberta da diversidade na Igreja e no mundo, assim como a valorização dos outros caminhos religiosos e humanos criavam um constante clima de estudos, de investigação e de diálogo”.

“Assistia-se também à mudança de tantas certezas. Umas vezes tratava-se de verdadeiras e autênticas certezas, que sucessivamente se impuseram como algo a recuperar; outras vezes, eram ilusões, que felizmente ficaram pelo caminho”, acrescenta.

D. José Saraiva Martins elogia o “otimismo” gerado pelo Concílio e um “princípio essencial” então definido de que a Igreja do futuro seria a Igreja da “participação”.

“Lembro rostos e acontecimentos, mas também pontos de chegada pelos quais ansiava do mesmo modo que surpresas, momentos de expectativa como de esperança”, confessa, antes de destacar, em particular, a oportunidade de ter podido assistir à última reunião da grande assembleia.

O cardeal confessa que os ensinamentos do Vaticano II o levaram a prestar uma atenção especial à “missão da Igreja na sociedade moderna, pois esta engloba a promoção do homem e a defesa dos seus direitos fundamentais, naturais e, por isso ‘sacros’, isto é ‘não negociáveis’”.

OC

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