Vaticano II, 50 anos de história

Lisboa, 29 nov 2011 (Ecclesia) – O arcebispo emérito de Braga, D. Eurico Nogueira Dias, recorda ainda hoje o “entusiasmo” com que recebeu a convocação do II Concílio Ecuménico do Vaticano, pelo Papa João XXIII, há quase 50 anos.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o prelado, de 88 anos, elogia o momento em que “a Igreja resolve encarar os problemas no seu conjunto”, permitindo que o Concílio se tornasse “um lugar de discussão clara, pública e sem reservas”.

“Terminado, verificou-se que havia uma tendência, de novo, da Santa Sé para centralizar e não deixar as coisas correrem muito fora das suas mãos. A meu ver, isso foi mau porque deviam ter mantido um processo de orientar a vida da Igreja e encarar os problemas no seu conjunto”, lamenta o único bispo português vivo de todos os que participaram no 21.º Concílio da história da Igreja Católica.

D. Eurico Nogueira Dias diz ainda que “nem tudo o que se resolveu no Concílio, e que foi objeto de documentos, se cumpriu”.

O arcebispo emérito de Braga recorda a participação portuguesa na parte final do encontro, em que marcou presença, e a limitação de recursos: “As intervenções eram estudadas pelos grupos dos bispos e seus conselheiros, mas Portugal não tinha isso”.

No consistório de 25 de janeiro de 1959, João XXIII anunciava aos cardeais a intenção de convocar um Concílio como uma das três principais tarefas do seu pontificado.

Foi no dia de Natal de 1961 que o Papa italiano assinou a constituição apostólica ‘Humanae Salutis’: “Parece-nos chegada a hora de convocar o Concílio Ecuménico Vaticano II”.

Angelo Guiseppe Roncalli tinha sido eleito a 28 de outubro e investido a 4 de novembro de 1958, pelo que esta decisão causou “surpresa”, como refere o historiador e padre Senra Coelho, do Instituto Superior de Teologia de Évora, num texto hoje publicado no semanário Agência ECCLESIA.

O investigador lembra que “o Concílio Vaticano I fora adiado sine die, devido às dificuldades políticas surgidas com os movimentos promotores da unificação de Itália”, em 1870.

“A notícia da decisão do Papa [João XXIII] convocar o Concílio despertou muito interesse, também pelas expectativas vinculadas à designação de ‘ecuménico’, levando a conjeturar-se que o principal objetivo desse anunciado Concílio fosse a pretendida unidade da Igreja, face à realidade das Igrejas separadas”, acrescenta o membro da Academia Portuguesa de História.

Para o padre Senra Coelho, “com a realização do Concílio Vaticano II mudou o olhar da Igreja para o mundo e muitos dos que estiveram sob suspeita, foram depois referência e assumiram atuações de primeira ordem”.

Em editorial, Paulo Rocha, diretor da Agência ECCLESIA, sublinha os contributos enviados para Roma nos três anos anteriores à realização das sessões conciliares, quando foram pedidos temas para debate e sugestões para o desenrolar dos trabalhos: “A Roma chegaram quase 2 mil respostas, onde estavam mais de 9 mil propostas”.

“Depois, os anos de reunião, no Vaticano: 2500 participantes no Concílio, observadores, peritos, consultores teológicos, tradutores e muitas outras pessoas para concretizar uma ideia do Papa João XXIII, expressão de procuras e interrogações de mulheres e homens dos meados do séc. XX na tentativa de adequar verdades eternas a novos contextos”, acrescenta.

A Agência ECCLESIA inicia, com a mais recente edição do seu semanário, a publicação de conteúdos que assinalam os 50 anos de convocação do Concílio Vaticano II.

OC

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