Cardeal português aponta desafios da sua nova missão, na Cúria Romana
Lisboa, 07 dez 2022 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça disse hoje à Agência ECCLESIA que o “grande espaço” da Cultura e da Educação é um “lugar fundamental” para a missão da Igreja, no mundo contemporâneo.
“A Igreja é um grande laboratório de Cultura para o mundo, um precioso laboratório de esperança cultural, de tantas formas”, assinala o prefeito do novo Dicastério para a Cultura e Educação, da Santa Sé.
O colaborador do Papa sustenta que, na Cultura e na Educação, a Igreja coloca “o seu património, o seu tesouro de história, de ensinamento, de vida, ao serviço da pessoa humana, colocando-a neste horizonte de esperança e de futuro”.
“Aquilo que vivemos dentro da Igreja não se declina apenas em chave religiosa”, aponta.
D. José Tolentino Mendonça recorda a inspiração cristã de várias obras musicais e de arte, que mostram a “vitalidade da fé”, ao longo dos séculos.
O grande desafio é não nos conformarmos a que uma menor inscrição social da Igreja e do Cristianismo, nas sociedades contemporâneas, corresponda a uma anulação do seu potencial cultural”.
Para o cardeal madeirense, a experiência cultural pode ser “um lugar de encontro ou de reencontro com o Cristianismo e, por isso, a Igreja olha com muita esperança para esta área”
Questionado sobre o seu trabalho com quase 2 mil universidades e milhares de escolas em todo o mundo, o prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação saúda o facto de a Igreja ter “a maior rede educativa, a nível global”.
“Essa rede, hoje, constitui o interface privilegiado da Igreja com o mundo, da Igreja com a sociedade, da Igreja com as famílias, com o indivíduo”, afirma.
O responsável considera que esta rede educativa continua a ser “relevante”, mas atravessa algumas dificuldades, que “são desafios a crescer, a reavaliar, possivelmente a reorganizar”.
“O campo da Educação joga-se não só uma visão antropológica, que o Cristianismo possui, mas também se joga esse encontro da Igreja com a história presente, como possibilidade para anunciar Jesus Cristo e testemunhá-lo”, insiste D. José Tolentino Mendonça.
A rede educativa da Igreja é uma rede cheia de potencial. Em muitos casos, numa Europa muito marcada por uma secularização forte, a escola é, muitas vezes, o último interface – na fé, acreditamos que é o primeiro – para anunciar Jesus Cristo e para testemunhar a missão da Igreja”.
A 26 de setembro, o Papa nomeou o cardeal madeirense, de 56 anos, como prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação, após ter ocupado o cargo de Bibliotecário e Arquivista da Santa Sé, que assumiu em 2018.
O membro da Cúria Romana assume a intenção de promover um trabalho “em rede” e com uma programação própria, para “mostrar como a experiência cristã é um foco de criação cultural relevante para a Cultura contemporânea”.
“Não se pode pensar o mundo sem o contributo que o Cristianismo representa”, afirma.
Para o cardeal português, é importante promover uma “Igreja em saída”, como pede o Papa Francisco, para “habitar os lugares típicos da Cultura”, como festivais, feiras de artes, encontros de escritores, o mundo do desporto ou dos espetáculos.
Em 2023, vão celebrar-se os 60 anos do início da coleção de arte moderna dos Museus do Vaticano.
“Será uma oportunidade para um encontro com o mundo das artes, testemunhando a causa da procura de verdade”, refere o entrevistado, falando numa Igreja “parceira” e “aliada” na “procura de sentido da vida”.
D. José Tolentino Mendonça assume que o novo cargo que o Papa lhe confiou é um “desafio”.
“Assumo-o com muita humildade, no sentido em que vai muito para lá do que uma pessoa individual pode fazer e, por isso, é um estímulo muito grande para um trabalho de equipa, ao alargar de uma rede global, muito maior”, que visa gerar “um movimento cultural”, explica.
D. José Tolentino Mendonça nasceu em Machico (Diocese do Funchal) em 1965 e foi ordenado padre em 1990 e bispo a 28 de julho de 2018; é doutorado em Teologia Bíblica, tendo desempenhado, entre outras funções, os cargos de reitor do Colégio Pontifício Português, em Roma, de diretor da Faculdade de Teologia da UCP e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
Foi criado cardeal pelo Papa Francisco, a 5 de outubro de 2019.
PR/OC
O Dicastério para a Cultura e a Educação nasceu com a publicação da constituição apostólica “Praedicate Evangelium”, a 19 de março deste ano; é formado pela secção para a Cultura, dedicada à promoção da cultura, à animação pastoral e à valorização do património cultural, e pela secção para a Educação, que desenvolve os princípios fundamentais da educação com referência às escolas, Institutos superiores de estudos e pesquisas católicos e eclesiásticos e é competente para os apelos hierárquicos em tais matérias.
Este organismo da Cúria Romana coordena também as atividades da Academia Pontifícia de Belas Artes e Letras dos Virtuosos do Panteão; a Academia Pontifícia Romana de Arqueologia; a Academia Pontifícia de Teologia; a Academia Pontifícia de São Tomás; a Academia Pontifícia Mariana Internacional; a Academia Pontifícia ‘Cultorum Martyrum’; e a Academia Pontifícia de Latinidade.
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