Vaticano: Divulgação pública de correspondência dirigida ao Papa foi ataque «muito violento» a Bento XVI

«Publicação de cartas roubadas é um ato imoral de inédita gravidade», diz arcebispo substituto da Secretaria de Estado do Vaticano

Cidade do Vaticano, 31 mai 2012 (Ecclesia) – O substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, arcebispo D. Angelo Becciu, considera que o roubo e a divulgação na imprensa de cartas dirigidas ao Papa constituem uma agressão contra Bento XVI.

“O ataque que [o Papa] sofreu é muito violento”, afirmou o responsável italiano, uma das figuras do topo da hierarquia da Cúria Romana, em entrevista publicada esta quarta-feira no jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano.

Bento XVI deparou-se com a divulgação nos media de “documentos roubados da sua casa, papéis que não são simples correspondência privada  mas informações, reflexões, aberturas de consciência e até alguns desabafos que recebe unicamente devido ao seu ministério”, referiu.

“A publicação de cartas roubadas é um ato imoral de inédita gravidade”, sobretudo “porque não se trata unicamente de uma violação, já em si mesma gravíssima, da reserva a que qualquer pessoa tem direito, mas por se tratar de uma vil afronta à relação de confiança entre Bento XVI e quem se lhe dirige, mesmo que seja para expressar em consciência um protesto”, sublinhou.

O Papa está “entristecido” porque, segundo as últimas averiguações, “uma pessoa muito próxima dele parece ser responsável por comportamentos injustificáveis”, apontou o arcebispo.

Paolo Gabriele, assistente de Bento XVI, foi detido a 23 de maio por ter na sua posse documentos pertencentes ao Papa, suspeitando-se que seja o autor de fugas de informação no Vaticano, conhecidas por “Vatileaks”, que deram origem à divulgação pública de dados reservados.

O roubo dos documentos é injustificável mesmo que as suas motivações fossem o favorecimento da Igreja, procurando a sua reforma e maior transparência, frisou D. Angelo Becciu.

“Não pode haver renovação se houver desprezo da lei moral, nem sequer seguindo o princípio de que o fim justifica os meios, um princípio que, além do mais, não é um princípio cristão”, afirmou.

O responsável também rebate o argumento do direito à informação, vincando que os jornalistas deviam ter “uma preocupação ética, isto é, deveriam ter a valentia de se distanciarem claramente da iniciativa de um colega que não hesito em definir como criminosa”.

“Um pouco de honradez intelectual e de respeito pela ética profissional mais elementar não faria mal ao mundo da informação”, assinalou o arcebispo que já foi representante diplomático (núncio apostólico) da Santa Sé em Angola e São Tomé e Príncipe.

D. Angelo Becciu discorda de quem defende que os documentos revelados traduzem “lutas ou vinganças” dentro do Vaticano e salienta que são sinal da “liberdade de pensamento” existente no interior da Igreja.

“Se alguém se sente incompreendido tem pleno direito a dirigir-se ao Pontífice. Porquê o escândalo? Obediência não significa renunciar a ter juízo próprio mas a manifestar com sinceridade e até ao limite a própria opinião, para depois acatar a decisão do superior”, sustentou.

O arcebispo frisou que o Papa “não perde a serenidade que lhe permite governar a Igreja com determinação e clarividência” e disse esperar que o Encontro Mundial das Famílias, a decorrer até domingo na cidade italiana de Milão, com a presença de Bento XVI a partir de sexta-feira, seja uma ocasião “de festa” e “alegria”.

RJM

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