Vaticano, Darwin e a Teoria da Evolução

Congresso Internacional procura cruzar os olhares de cientistas, teólogos e filósofos nestas áreas, para lá das polémicas A Santa Sé promove a partir desta Terça-feira a Conferência Internacional sobre o tema «Evolução Biológica: factos e teorias. Uma avaliação crítica 150 anos depois de “A origem das espécies”», a ter lugar no Vaticano até 7 de Março. A iniciativa é organizada pelo Universidade Pontifícia Gregoriana, em colaboração com a Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos da América, sob o patrocínio do Conselho Pontifício da Cultura no âmbito do projecto Ciência, Teologia e missão ontológica (STOQ – Science, Theology and the Ontological Quest). Na abertura dos trabalhos, o Arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, disse que é necessário cruzar os olhares de cientistas, teólogos e filósofos, “de rosto aberto, num confronto sereno” e promovendo “leituras diversas da mesma realidade” segundo o seu ângulo de abordagem. A fé, disse ainda, “se não é pensada, é nada, é vazia”. O professor de Filosofia da Universidade Pontifícia Gregoriana e coordenador do encontro, Padre Marc Leclerc, afirmou na apresentação pública desta conferência que nenhum universitário, católico ou não, pode permanecer indiferente a dois eventos que se celebram este ano: o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da sua obra “A Origem das Espécies”. O sacerdote jesuíta explica que não se trata simplesmente de homenagear o cientista inglês, mas analisar uma obra que marcou para sempre a história da ciência e influenciou o modo de compreender a nossa própria humanidade. “Chegou a hora de uma atenta avaliação crítica, rigorosa e objectiva dos vários aspectos implicados”, afirmou o Pe. Leclerc Os vários aspectos de que fala o Professor Leclerc incluem também o aspecto religioso, pois sua teoria evolucionista entraria em oposição com a visão bíblica da criação do homem. A esse propósito, D. Gianfranco Ravasi esclareceu já que a Bíblia e as teorias evolucionistas não são, a priori, incompatíveis. Marc Leclerc explicou que o problema teve início quando a teoria da evolução se tornou evolucionismo. Ou seja, a teoria científica transformou-se progressivamente num sistema filosófico, ideológico que interpretava toda a realidade humana, indo além do seu âmbito específico. O mesmo problema se verificou com a teoria da criação que se encontra no livro do Génesis, que se tornou criacionismo, ou seja, um sistema de pensamento também científico. “Na realidade, o autor do Génesis não tinha a intenção de dar respostas científicas, mas de responder a uma questão teológica com os instrumentos do seu tempo”, esclareceu. Este congresso, portanto, não pretende celebrar Darwin nem estudá-lo especificamente, mas estudar de perto os vários aspectos da Teoria da Evolução, para acompanhar o debate científico, filosófico e teológico que suscita. Durante cinco dias, o Congresso será dividido em nove sessões, para abarcar todas as disciplinas implicadas na Teoria, como a paleontologia, a biologia molecular, os mecanismos da evolução, a antropologia, a filosofia e a teologia. Na iniciativa da Universidade Gregoriana, a partir de recentes descobertas científicas relevantes, a teoria da evolução biológica merecerá uma atenta e séria reconsideração, tanto do ponto de vista científico como de uma perspectiva filosófica e teológica, evitando as posturas ideológicas que com frequência dominaram o debate Site oficial do Congresso Notícias relacionadas • Dossier AE

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