Novo documento aborda «reciprocidade entre fé e Sacramentos»
Cidade do Vaticano, 04 mar 2020 (Ecclesia) – O novo documento da Comissão Teológica Internacional, organismo ligado à Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé), coloca em causa a validade do matrimónio de “batizados não-crentes”.
O texto, publicado online em inglês e espanhol, resulta de um trabalho de cinco anos, envolvendo especialistas em Teologia de vários países, e coloca “sérias objeções sobre a existência de um casamento sacramental” quando os noivos foram batizados na infância mas não têm uma vida de fé ou a negam conscientemente.
O documento sobre ‘Reciprocidade entre fé e Sacramentos na economia sacramental’ alude ainda a “sérias dúvidas sobre uma intenção que inclua os bens do casamento natural, como entendido pela Igreja”.
“É consistente com a práxis sacramental da Igreja negar o sacramento do casamento àqueles que o solicitam nessas condições, como João Paulo II já argumentou”, pode ler-se.
O novo trabalho diz rejeitar “dois extremos”, o “automatismo sacramental absoluto” – qualquer casamento entre batizados seria um sacramento – e o “ceticismo sacramental elitista” – qualquer grau de ausência de fé viciaria a intenção e, portanto, invalidaria o sacramento.
Em entrevista ao portal ‘Vatican News’, o teólogo jesuíta Gabino Uríbarri Bilbao, membro da Comissão Teológica Internacional, sublinha que a consideração se aplica a “casos extremos”, com “total falta de fé, rejeição do que o sacramento significa”.
“Em muitos lugares, a compreensão socialmente partilhada sobre o matrimónio, incluindo a que é legalmente estabelecida, não se baseia na indissolubilidade (para sempre), na fidelidade (a exclusividade e o bem do cônjuge) e a procriação (aberta à descendência). Por outras palavras, argumentamos que no caso de ‘batizados não-crentes’, a intenção de contrair um verdadeiro matrimónio natural não é garantida”, precisa.
Em relação ao Batismo, Eucaristia e Confirmação, os sacramentos da iniciação cristã, o documento sublinha estes que envolvem sempre “um caráter missionário”.
“Levar a sério a sacramentalidade da história da salvação requer um mínimo de fé, para evitar que a celebração dos sacramentos caia no ritualismo vazio, na magia ou numa privatização da fé que já não corresponde à fé eclesial”, conclui Gabino Uríbarri Bilbao.
Ao receber a Comissão Teológica Internacional, a 29 de novembro de 2019, o Papa sublinhou a necessidade de “superar as várias formas de dissociação entre fé e vida sacramental”.
OC