Antigo colaborador do Papa diz que Francisco autorizou pagamento de resgate para libertar religiosa no Mali
Cidade do Vaticano, 06 mai 2022 (Ecclesia) – O cardeal Angelo Becciu, ex-colaborador do Papa, negou esta quinta-feira, diante do Tribunal do Vaticano, as acusações de que é alvo num julgamento sobre alegados atos ilícitos com fundos da Secretaria de Estado.
Numa intervenção de duas horas e meia, detalhada pelo portal de notícias ‘Vatican News’, o antigo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé) falou, entre outras questões, da relação com Cecilia Marogna, que se teria disponibilizado para mediar a libertação de religiosos sequestrados em territórios difíceis.
D. Angelo Becciu falou, em particular, da libertação da irmã Gloria Cecilia Navaes Goti, missionária colombiana sequestrada no Mali em 2017 e libertada quatro anos depois, afirmando que o Papa teria autorizado “todas as operações necessárias”.
A declaração indicou que o Papa “entendeu a necessidade de não expor o Vaticano a publicidade inútil e, na verdade, prejudicial”, pedindo que o assunto permanecesse “confidencial”.
Segundo a acusação, no entanto, o montante que teria sido encaminhado para a libertação da religiosa foi usado por Cecilia Marogna para “comprar roupas de luxo, acessórios e móveis”, não tendo sido esclarecido, em Tribunal, se algum do dinheiro foi efetivamente entregue aos extremistas islâmicos para salvar a missionária franciscana.
O cardeal Becciu – que em 2020 renunciou aos direitos associados ao cardinalato – disse ao Tribuna que Francisco o libertou da exigência de confidencialidade.
O julgamento de fraude financeira que teve origem num investimento da Santa Sé numa propriedade de Londres, considerado suspeito, e alargou-se a outros alegados crimes.
D. Angelo Becciu é acusado de peculato, abuso de poder e manipulação de testemunhas, negando todas as acusações e afirmando a sua “absoluta inocência”.
O responsável recordou o encontro que manteve com o Papa em setembro de 2020, no final da qual renunciou ao cardinalato.
“O Santo Padre disse-me que, após investigações ad hoc, foi informado de que as quantias do Óbolo de São Pedro enviadas por mim para a Cáritas de minha Diocese de Ozieri serviram para enriquecer os meus irmãos, especialmente o meu irmão Tonino. Acrescentou ainda que o entristecia que um semanário italiano já tivesse ouvido falar desta grave acusação”, relatou.
D. Angelo Becciu sustenta que a atribuição de um fundo de 100 mil euros à Cáritas da sua terra natal, na Sardenha, visava responder à emergência do desemprego, negando ter desviado verbas da Santa Sé, em particular do chamado ‘Óbolo de São Pedro’, o fundo da caridade do Papa.
OC
Vaticano: Papa saudou religiosa libertada após sequestro no Mali