Organismo sinalizou 64 operações suspeitas em 2019, ano marcado pela polémica ligada à venda de um imóvel em Londres
Cidade do Vaticano, 03 jul 2020 (Ecclesia) – A Autoridade de Informação Financeira (AIF) do Vaticano divulgou hoje o relatório anual relativo a 2019, o primeiro após a mudança na sua presidência, após um ano marcado pela polémica ligada à venda de um imóvel em Londres.
O documento regista 64 operações suspeitas, um aumento de oito casos face a 2018, mas em linha com a diminuição quantitativa, face a anos anteriores (150 em 2017; 207 em 2016; 544 em 2015).
Das sinalizações, resultaram quatro medidas preventivas, incluindo o congelamento de uma conta bancária, e 15 relatórios dirigidos ao promotor de Justiça do Vaticano.
Outro dado destacado no relatório, enviado aos jornalistas, é a diminuição das operações transfronteiriças em dinheiro, em número e montante.
A 23 de janeiro deste ano, o Estado da Cidade do Vaticano foi novamente admitido no Grupo Egmont, organização global das autoridades financeiras nacionais, após a suspensão da AIF em novembro de 2019.
Carmelo Barbagallo, nomeado presidente da AIF pelo Papa Francisco a 27 de novembro de 2019, considerou que a readmissão no circuito informativo internacional ‘Egmont Secure Web’ representa um “testemunho da confiança” dos responsáveis do grupo no sistema do Vaticano.
A 1 de outubro de 2019, a sala de imprensa da Santa Sé anunciou que a Justiça do Vaticano tinha apreendido documentos e material informático na Secretaria de Estado e Autoridade de Informação Financeira.
O relatório de 2019 informa que 370 indivíduos estiveram envolvidos na troca de solicitações de informações com Unidades de Informação Financeira estrangeiras, o que “levou a resultados concretos, por meio da análise de esquemas financeiros complexos articulados em várias jurisdições”.
“Isso levou à transmissão de elementos de informações (intelligence) financeiras relevantes ao Gabinete do Promotor de Justiça e às contrapartes estrangeiras”, acrescenta o texto.
A AIF promoveu ainda duas inspeções no Instituto para as Obras de Religião (IOR), conhecido vulgarmente como o ‘Banco do Vaticano’.
Carmelo Barbagallo referiu, em nota de imprensa, que uma inspeção geral teve como objetivo “verificar o cumprimento técnico do quadro legislativo” e da “legislação vigente sobre prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo”, com resultados positivos.
Já em maio deste ano teve início a primeira inspeção geral preventiva, que se deve concluir em julho.
Ainda este ano, a AIF vai passar a ter uma nova denominação – ASIF (Autoridade de Supervisão e Informação Financeira) – um novo estatuto e o seu primeiro regulamento interno.
As mudanças vão ser avaliadas a partir de 29 de setembro, pelos dos técnicos do Moneyval, organismo especializado do Conselho da Europa.
Em dezembro de 2010, Bento XVI instituiu a Autoridade para a Informação Financeira para garantir maior transparência nas finanças da Santa Sé e do Vaticano e combater o crime económico, criando um quadro jurídico que entrou em vigor a 1 de abril de 2011.
OC