Uma só família

Um pensamento em que João Paulo II tem insistido fortemente e repetidamente é este: fazer da humanidade, de todas as nações, uma só família. Uma só família em que estarão banidos os conflitos, a guerra, as armas. Não terá lugar o ódio. Não terá lugar a violência. Não terão lugar os Kamikazes ou suicidas. Não terão lugar os abusos dos direitos humanos. Não terão lugar as execuções sumárias. Não terão lugar os nacionalismos exagerados. Não terão lugar as suspeitas maliciosas. Não terão lugar os imensamente ricos e os imensamente pobres. Não morrerão uns de fartura e outros de penúria, de miséria e de fome. Não viverão uns no luxo e outros no lixo, uns em palácios e outros na rua ou nos vãos das escadas. No dia 21 de Maio 2003, fui peregrino em Lourdes. O Santuário de Lourdes é sempre um lugar de forte meditação, porque há diariamente profundas manifestações de fé nas procissões de velas, do Santíssimo e na multidão de doentes que ali acorre à procura da saúde do corpo e sobretudo da alma. Muitos deficientes e seus familiares procuram coragem para viver, com confiança na Virgem do Céu, que aqui apareceu a Bernardette Soubirous e que a muitos já curou. Pois à entrada do recinto do Santuário aparece-nos este ano uma bela e feliz expressão do tema do Santuário em que se celebram os 40 anos da Pacem in Terris: “Fazei de todas as nações um só povo, uma só família”. Os continentes: Europa, Ásia, África, América e Oceania, uma só família. E milhares de irmãos nossos com saúde ou doentes ali se organizam para rezar e pedir as bênçãos de Deus e de Maria. Em Lourdes há muita fé, muita devoção, muita solidariedade. Que não é só folclore como muitos pensam e dizem. A linguagem na recitação do terço é uma linguagem universal. Também um mistério do terço foi rezado em português pelos cristãos de língua portuguesa presentes e pedindo para que Portugal também a unidade seja uma realidade e a convergência de acção para beneficiar todos os cidadãos seja uma realidade perante a divisão política que vem engrossando e perante o ateísmo prático que torna as relações humanas sem ética, macabras, mortíferas porque conduzem à falta de respeito e à insegurança. De facto, cada vez constatamos mais que o país não caíra num pântano, mas já andava a chafurdar bem na sordidez do pântano. Achei bem pensado, amigo, que o país da deusa razão, que conduziu os últimos séculos à degradação de valores espirituais e do valor da família, ingressando num beco sem saída, possa ser o país que leve a uma aproximação de Deus e dos homens uns com os outros. A França tornar-se-ia grande!A Europa está bem doente, e dando mau exemplo na falta de unidade. A União Europeia é quase só de nome e burocracia. Os problemas reais do cidadão continuam sem solução. Os dos pequenos países saem até agravados, mesmo com os subsídios europeus. Perante os problemas mundiais poucos aparecem a dar as mãos, a colaborar. A acção de políticos de visão rara e com os pés no chão pretende até ser silenciada por outros que nada mais fazem do que tornar a vida “negra” ao cidadão. O tema deste ano do Santuário de Lourdes, que é o da Pacem in Terris é sumamente actual: “Fazer de todas as nações um só povo, uma só família, a família humana”. Armando Soares

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top