«Uma juventude que não é rasca mas que anda à rasca»

Juventude Operária Católica reuniu-se em acampamento nacional

“Cada jovem trabalhador vale mais do que todo o ouro do mundo”. Ao ouvir os rapazes e raparigas que participaram no Acampamento Nacional da Juventude Operária Católica (JOC), percebemos que esta frase, proferida pelo fundador do movimento há mais de 80 anos, continua a ser importante para o seu crescimento na fé e na auto-estima.

Para o Pe. Luciano Nogueira, esta é “uma juventude que não é rasca mas que anda à rasca”, que “busca caminhos novos de libertação e procura criar uma vida interior profunda, que é o grande alicerce nas alturas de conflito e de crise”.

Sem perder a dimensão da abertura aos mais pobres, que faz parte da sua identidade original, o movimento expandiu-se nos últimos anos para alguns bairros da periferia de Lisboa. A JOC quer dirigir-se aos “que mais precisam e que estão mais esquecidos pela sociedade”, lembrou o antigo assistente.

A JOC pretende igualmente “chegar àqueles que estão longe da Igreja e que têm mais dificuldade de inclusão na sociedade. Sentimos que temos de ir ao encontro desses jovens, para os ajudar a perceber que, apesar de não estarem integrados, também são muito importantes”, refere Rui Lavoura, dirigente do movimento.

“Rasga os teus rótulos, arrisca a diferença”

O objectivo do acampamento nacional, que se realizou em Coimbra entre 29 de Julho a 2 de Agosto, foi ajudar os participantes a perceber que, mesmo em “pequeninas coisas”, “é importante que nos sintamos comprometidos”, explica Rui Lavoura.

Uma das actividades consistiu na realização de um «peddy paper». Divididos em grupos, os participantes passaram por três fases, correspondentes aos passos do método “ver, julgar e agir”, utilizado pelos movimentos da Acção Católica na avaliação e aquisição de pistas para o futuro.

Na etapa do ‘ver’, esclareceu Rui Lavoura, “procurámos observar como julgamos os outros” e as maneiras como “na sociedade a aparência conta mais do que a dignidade”. Num segundo momento, as equipas tentaram discernir a forma como “Jesus Cristo aponta caminhos para nós nos dias de hoje, para perceber como podemos transformar a realidade”. Por fim, a dinâmica pretendeu que os jovens descobrissem que têm “muitos talentos”, e que cada um é imprescindível na mudança das estruturas em que se insere.

“Além de nos divertirmos e brincarmos, temos espaço para descobrir coisas sobre nós, sobre os outros e sobre esta realidade”, acrescentou.

“As pessoas limitam-se a olhar para a nossa imagem e julgam-nos por aquilo que aparentamos ser, sem primeiro nos conhecerem”, constata Susana Pereira. “Aqui no acampamento, ajudam-nos a ver que podemos fazer a diferença, começando por nós próprios, ao não rotular os outros.”

Para Rosangela Teixeira, estes acampamentos têm sido uma oportunidade para conhecer pessoas e descobrir coisas novas. Susana acrescenta que se aprende “a viver em grupo, a partilhar experiências… É muita coisa ao mesmo tempo. São dias muito especiais”.

Acompanhar as preocupações da juventude

O presidente da JOC, Alexandre Fernandes, sintetiza as actuais inquietações dos jovens: para os estudantes, é a preocupação com a obtenção do primeiro emprego; para quem entrou na vida activa, é a angustia com o futuro do seu posto de trabalho e, por vezes, com os salários, que não garantem uma vida digna.

Em 2008/9, a JOC organizou uma campanha nacional sobre o endividamento. Trata-se de um fenómeno “que está a marcar muito a juventude”, refere o presidente do movimento. Por outro lado, “a educação financeira dos jovens não é das melhores: não estamos educados para a poupança, para gerir o nosso dinheiro”, assinala Rui Lavoura.

Será que a Juventude Operária Católica, que em 2010 assinalará 85 anos de fundação e 75 anos em Portugal, continua a ser uma opção válida para a Igreja contemporânea?

Para Alexandre Fernandes, o movimento ajudou-o a ser mais aberto aos outros e a tomar consciência do seu valor, independentemente da escolaridade: “O que interessa é que somos pessoas”. Susana Pereira acrescenta que ele “é uma escola para a vida”. E o Pe. Luciano Nogueira conclui: “A JOC anda por aí. É por isso que eu acredito nesta juventude”.

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Agência ECCLESIA

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