A espiritualidade de Mozart na Igreja da Lapa – Porto “Ouvindo Bach e Mozart na Igreja, ambos nos fazem sentir, de modo magnífico, a glória de Deus: nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza, deixando-nos experimentar, mais do que em muitas homilias, a presença de Deus, de forma mais viva e genuína” (J. Ratzinger, 2001). A Igreja da Lapa, na cidade do Porto, celebra com grande profundidade musical e grande elevação espiritual o 250º aniversário do nascimento do grande génio musical austríaco W. A. Mozart (1756-1791). Estas celebrações coincidem com o Ano Jubilar da Igreja da Lapa – comemorações dos duzentos e cinquenta anos do lançamento da primeira pedra desta igreja, situada no coração da cidade (17 de Julho de 1756).. Aberto a toda a comunidade, e em datas previamente calendarizadas de acordo com os momentos mais festivos da liturgia, este projecto apresenta o conjunto integral e magnífico de todas as “Missas Brevis e Solenes de Mozart”, bem como “Sonatas de Igreja” do mesmo compositor, constituindo um projecto musical único a nível europeu e até a nível mundial. Só quem vive as celebrações dominicais das doze horas, se poderá aperceber das riquezas insondáveis ao nível da música litúrgica que acontecem nesta comunidade. O Cónego Ferreira dos Santos, grande impulsionador e entusiasta deste projecto, em conjunto com o Coro Polifónico da Lapa, a Orquestra Sine Nomine, os organistas que executam o Grande Órgão de Tubos, sob a excepcional direcção do Mestre Capela Filipe Veríssimo, proporcionam momentos altos de beleza e de contemplação que permite a passagem, segundo António Marto, Bispo de Viseu (2006), do “para nós” ao “maior e mais íntimo que nós”. São, desde longa data, conhecidos e reconhecidos os projectos musicais que ao nível da realização de concertos se realizam nesta Igreja, sempre marcados por uma grande qualidade musical. Contudo, com este projecto iniciado em 27 de Janeiro deste ano de 2006 e cuja duração se prolongará até 27 de Janeiro de 2007 em que a dedicação e o empenhamento do Mestre Capela Filipe Veríssimo, nestas celebrações, nos habituaram já a uma grande qualidade musical e artística. Um dos grandes objectivos deste projecto é proporcionar aos elementos participantes desta comunidade momentos de reflexão espiritual através da audição musical. Muitas vezes pensa-se que a participação dos fiéis, ao nível musical nas celebrações, só é possível quando a assembleia participa, cantando sob a direcção de um dinamizador litúrgico. Sem dúvida que isso é uma realidade e na Igreja da Lapa existe uma dinâmica musical muito diversificada ao longo de todas as missas dominicais de sábado e de domingo. Contudo, o contributo cultural que advém destas celebrações dominicais em que a “Música de Mozart” está presente é altamente motivador e significativo. Em Portugal, caminha-se ainda que a passos menos rápidos do que seria desejável, para um maior conhecimento e aprofundamento da música erudita. Nesta perspectiva, o Cónego Ferreira dos Santos e os seus colaboradores apostam seriamente na formação cultural e espiritual que se consegue através da audição e da interiorização da música. Tanto para este projecto como para outros excelentes concertos são convidadas pessoas disponíveis que queiram aprender música através do canto e da execução organística, como em simultâneo convidam também grandes músicos e grandes orquestras nacionais e estrangeiras que com o seu saber ajudam a uma melhor compreensão destes objectivos, divulgando assim uma vertente importantíssima da música sacra. Os resultados são muito significativos sobretudo quando se vêm as pessoas empenhadas no Coro, deixando tudo para não faltar aos ensaios aprendendo e mudando até comportamentos no seu dia a dia, porque esta “ aprendizagem musical” lhes ensina outras formas de estar e de sentir. Da parte da assembleia as celebrações do meio-dia estão sempre repletas. As pessoas deslocam-se dos mais diversos locais para poderem participar em mais uma das “Missas Brevis ou Solenes de Mozart”. Não será por acaso que mesmo no final de cada uma das celebrações, quando o celebrante se encontra já fora da igreja, ecoam estrondosas salvas de palmas em sinal de reconhecimento e de festa. É, de facto, uma experiência magnífica, e que no futuro, pensamos, exigirá novos desafios… É muito importante salientar que, segundo opiniões recolhidas, não são as condições económicas que indicam ou facilitam o avanço deste ou de outros projectos. Ao pensar na sua organização, os seus orientadores têm como horizontes essenciais os objectivos acima mencionados. A formação e o crescimento cultural e espiritual da comunidade estão acima de qualquer outro objectivo e de seguida serão procurados os meios e os recursos para o conseguirem. Não será, portanto, tarefa fácil. Exige em primeiro lugar grande formação e grande experiência musical por parte dos orientadores, seguido depois, de grande interesse, motivação e dedicação por parte destes e de todos os que fazem parte deste projecto. É um trabalho consistente, de permanente actualização de conhecimentos, de permanente reflexão, de estudo de metodologias e de estratégias que conduzam ao aperfeiçoamento e à experienciação da música litúrgica nas suas dimensões de espiritualidade e de exigência e ao mesmo tempo de práticas organizadoras. Dentro de breves dias festejar-se-á o 70º aniversário do Cónego Ferreira dos Santos. Desde já queremos felicitá-lo com os nossos parabéns e manifestar-lhe o nosso agradecimento por tudo quanto tem proporcionado aos membros desta comunidade, à diocese do Porto e ao nosso país, tendo sempre como horizontes, entre outros, projectos musicais onde a divulgação e a vivência da musica litúrgica são uma prioridade. A música nas celebrações e na vida das pessoas reveste-se de grande importância podendo proporcionar uma maior valorização das artes e em especial da música na formação de cada um. Esta experiência poderá ser uma forma motivadora de uma maior vivência cristã para outras comunidades. O belo é para contemplar. Uma cultura sem beleza é uma cultura sem contemplação; e uma cultura sem contemplação é uma cultura sem beleza. Mas a contemplação requer uma conversão do olhar interior e exterior, requer o despertar a capacidade simbólica do homem, a unidade de concentração dos sentidos corpóreo-espirituais. É preciso encorajar tudo o que estimula a nossa faculdade de contemplação para que a beleza nos atraia, nos transforme (D. António Marto, Bispo de Viseu, nas Jornadas Teológicas, Fevereiro de 2006). Para quem ainda não conhece e queira participar nestas celebrações segue-se a sua calendarização até ao mês de Julho próximo: 15 de Junho de 2006 às 12.00 horas (integrado na liturgia) Missa em Dó Maior, KV 317 “Krönungsmesse” Sonata em Dó Maior, KV 329/317a 9 de Julho de 2006 às 12.00 horas (integrado na liturgia) Missa [longa] em Dó Maior, KV 262/246a Sonata em Fá Maior 224/241a 16 de Julho de 2006 às 12.00 horas (integrado na liturgia) Missa brevis em Dó Maior, KV 220/196b “Spatzenmesse” Sonata em Ré Maior, KV 144/124ª Maria do Rosário Sousa – doutoranda em Educação Intercultural através da Música Estão previstos até final de Junho, mais os seguintes concertos: – No dia 4 de Julho, 21h30 – Concerto para Grande Órgão e Orquestra, com as seguintes obras: António Ferreira dos Santos (1936), Concerto para órgão e grande orquestra, em lá menor; Francis Poulenc (1899-1963), Concerto para órgão, cordas e tímpanos, em sol menor. Ao órgão, Wayne Marshall (organista de renome mundial); Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, sob a direcção de Johannes Skudlik. No dia 17 de Julho, dia em que se completam os 250 anos do lançamento da primeira pedra da Igreja da Lapa, está marcado um Concerto pelo Coro e Orquestra Gulbennkian.