Na altura em que se perfilam os mais fortes candidatos aos prestigiados galardões da indústria cinematográfica americana, “Um Profeta” chega-nos, já enriquecido de justíssimos prémios anteriores, como um significativo candidato ao Golden Globe de Melhor Filme de Língua Estrangeira.
Apesar de preterido por “O Laço Branco”, outro dos bons filmes anunciados para breve no cartaz nacional, na candidatura à Palma d’Ouro, “Um Profeta” despediu-se da Riviera francesa em Maio passado sob plena satisfação sua e do Júri do festival que lhe concedeu o seu Grande Prémio. Além das saudades ali deixadas, foi considerado Melhor Filme pelo júri oficial do Festival de Cinema de Londres e pela Associação de Críticos de Cinema dos Estados Unidos, tendo ainda granjeado prémios ao seu principal actor e à equipa de edição de som pela qualidade das respectivas prestações.
Nenhuma referência é de admirar dada a belíssima gestão que Jacques Audiard faz da sua equipa para nos contar a duríssima história de Malik El Djebena, um rapaz de 19 anos, de origem Árabe, praticamente analfabeto, condenado a seis anos numa prisão francesa. Pouco importaria dizer que foi pequeno o delito que levou Malik à prisão se logo acrescentarmos que em seis anos a ingenuidade e vulnerabilidade de um rapazola (adulto, mas pouco…) dão lugar a um férreo instinto de protecção e a uma igualmente férrea liderança capazes de transformar Malik numa outra pessoa. Pouco importaria se não nos condoesse a aspereza que o vemos, progressivamente, ganhar, permitindo-lhe, aos poucos subjugar os outros, manipulando os desmandos de um estabelecimento prisional – e, para além deste – do mundo do crime.
A história de “Um Profeta” não é, de longe, a que gostaríamos de imaginar e tão bem iria com o significado dos profetas que crescemos a amar.
É uma história negra, dura e, infelizmente, muito próxima de uma certa realidade.
Por isso e por ser tão bem contada, merece a nossa atenção.
Margarida Ataíde