Um outro estilo – Bento XVI

Apesar de recente a sua eleição, muito se tem falado do novo Papa Bento XVI, sobretudo tendo em conta que esteve ao longo de vinte e três anos à frente de um dicastério no Vaticano, que o levou a tomar algumas posições que não agradaram e, sobretudo, o carregaram de alguns atributos que as pessoas que mais de perto têm lidado com ele não confirmam, vincando sobretudo a sua grande humanidade e proximidade das pessoas e situações. Ao escutar e ler tantos comentários, quis reflectir sobre a sua primeira mensagem onde nos oferece as linhas programáticas do seu pontificado. No conjunto da sua mensagem, sobressai o teólogo, mas sobretudo o servo humilde, inteiramente confiante na misericórdia de Deus, e em total disponibilidade para, com o apoio de todos, servir a Igreja. Frente à sua nova situação, começa por falar dos sentimentos que o invadem – um sentido de inadequação e de humana perturbação pela responsabilidade … e a gratidão a Deus que não abandona o seu rebanho, mas o conduz através dos tempos. Aliada a esta confiança total em Deus, sente a presença de João Paulo II, e com que sensibilidade! Assim fala da “ sua mão forte… os seus olhos sorridentes… as suas palavras – não tenhas medo”. Para a compreensão da missão que lhe é confiada, Bento XVI visualiza e aplica a si a passagem evangélica de Mt.16, 15-19 e, como sucessor de Pedro, diz: repito com estremecimento as palavras estremecidas do pescador da Galileia e ouço de novo, com íntima emoção, a promessa reconfortante do divino Mestre. Se é enorme o peso da responsabilidade que se coloca sobre os meus ombros, é certamente desmesurada força divina com a qual posso contar: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18). Numa total e confiante adesão a Cristo, conta também com os irmãos no ministério – colégio cardinalício e episcopado – e solicita-lhes oração e activa e sábia colaboração. Tal como aconteceu com o seu antecessor João Paulo II, também Bento XVI expressa a vontade decidida de prosseguir no compromisso de actuação do Concílio Vaticano II, referindo que os seus conteúdos têm plena actualidade em relação às novas instâncias da Igreja e da presente sociedade globalizada. Faz referência ao ano da Eucaristia que estamos a viver e, como tal, o lugar de destaque da mesma, enquanto coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, referindo que estará presente em todos os acontecimentos, como a Jornada Mundial da Juventude e a Assembleia Ordinária do Sínodo. Assume o compromisso de trabalhar sem poupar energias na reconstituição da plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo, enfatizando alguns pressupostos para progredir no caminho do ecumenismo – a conversão interior e a purificação da memória, que criarão condições para acolher a plena verdade de Cristo, … único Senhor de todos. Mais adiante vai frisar que a sua missão é fazer resplandecer diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo. É neste contexto que se dirige aos que seguem outras religiões ou simplesmente buscam sentido para as suas vidas e lhes comunica que a Igreja quer continuar a tecer um diálogo aberto e sincero, à procura do verdadeiro bem do homem e da sociedade, … para que da compreensão recíproca nasçam as condições de um futuro melhor para todos. Também os jovens são visados nesta mensagem como futuro e esperança da Igreja e da humanidade, oferecendo-lhes Bento XVI o desejo de continuar a dialogar, escutar, e ajudar a encontrarem, numa profundidade cada vez maior, o Cristo vivo, o eternamente jovem. Só a Ele pretendo servir, dedicando-me totalmente ao serviço da sua Igreja, diz o Papa Bento XVI quase a concluir. Como foi importante para mim esta mensagem! Como é importante fazer calar as vozes exteriores para que o Espírito nos toque, ilumine, oriente e a Sua voz serenamente silenciosa ecoe na profundidade do nosso ser.

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