Um Olhar sobre o Mundo

“Babel”. Diferentes línguas mas, sobretudo, desentendimento entre os homens. É este o tema que o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu tomou entre mãos a partir de um argumento de Guillermo Arriaga. Nomes que começaram a ser mais conhecidos quando transitaram para o cinema americano, mesmo mantendo uma clara ligação à sua origem. “Babel” desenvolve, de uma forma muito bem coordenada, três narrativas diferentes: Em Marrocos, na região de fronteira do México com os Estados Unidos e no Japão. Relacionadas entre si por pequenos ou grandes pontos de contacto são, na verdade, totalmente distintas, mas todas versando sobre a incompreensão entre povos de diferente cultura. Da mesma forma que em Marrocos se atrasa o socorro a uma americana ferida para satisfazer interesses políticos, nos Estados Unidos despreza-se a componente humana na expulsão de uma mexicana clandestina, há dezasseis anos com trabalho certo. E, no Japão, uma adolescente surda-muda vive o complexo do desprezo por parte dos rapazes em função da sua deficiência. Todos os pontos do filme conduzem a uma análise precisa, rigorosa, do comportamento que, de uma forma ou de outra, nos rodeia ou nos invade em cada dia da nossa vida. Iñárritu leva-nos a sofrer com intensidade os problemas das diversas personagens quando, na nossa frieza da condição de espectador, nos parecem tão simples as soluções para as situações dramáticas. Mas, tal como na vida real, essa simplicidade desaparece quando colide com interesses, costumes, ou a falta de confiança mútua entre povos. O filme conta com uma realização exemplar e uma montagem perfeita, que garante um bom ritmo e, sobretudo, uma ligação correcta entre as diferentes narrativas, que longe de se oporem entre si mutuamente se justificam, se complementam, definindo um panorama quase universal das carências da sociedade e das insuficiências humanas para as resolver. Francisco Perestrello

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