Um Natal com rosto humano

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

O rosto de Deus manifestou-se num rosto humano concreto. Apareceu, não sob a forma dum anjo, mas dum homem, nascido num tempo e lugar concretos. E assim, com a sua encarnação, o Filho de Deus indica-nos que a salvação passa através do amor, da hospitalidade, do respeito por esta nossa pobre humanidade que todos compartilhamos numa grande variedade de etnias, línguas, culturas… mas todos irmãos em humanidade!

(Papa Francisco, 25.12.2018)

A mensagem de Natal do Papa Francisco, em 2018, quis sublinhar a dimensão universal que esta celebração tem, por direito próprio, e apontou dois conceitos fundamentais que muitos de nós deixam de parte, ao olhar para estes dias: humanidade e fraternidade.

A Festa, como lhe chamamos na minha terra, não pode ser um privilégio de uma minoria de “perfeitos”. Sim, esta nossa “pobre humanidade” pessoal, como recordou o Papa, tem os seus limites e defeitos, mas aponta a algo maior. Estes momentos de celebração são demasiado importantes – até como conquistas civilizacionais – para serem soterrados num mar de amargura e cinismo. Ou de consumismo.

Como é lógico, não falamos todos do mesmo quando falamos de Natal. A palavra significa muitas coisas diferentes para quem fala dela, bastando pensar nas múltiplas abordagens possíveis a partir das perspetivas de fé, de cultura ou até de origem geográfica.

Há outro “Natal” por trás da celebração cristã. Com valores próprios e, infelizmente, também com aproveitamentos e comportamentos meramente comerciais, que apenas reforçam a exclusão dos últimos. São estes que o Papa recorda, em nome de Jesus, a cada mensagem ‘Urbi et Orbi’, dando voz ao grito dos mais frágeis, vistos como irmãos e irmãs.

Partilho, em conclusão, algo que já escrevi noutros espaços: desde o momento do seu nascimento, Jesus Cristo vai ao encontro dos que são considerados impuros, do que é tabu, daqueles que a religião do seu tempo interditava. Pessoas de carne e osso, com as suas alegrias e tristezas, que muitas vezes querem apenas ser visíveis, aos olhos dos outros. Isso (mais até do que os adornos exteriores) também é Natal.

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