Um eremitério para o século XXI

«Casa Daniel» cada vez mais próxima de se tornar realidade O sonho nasceu há muito tempo, nas visitas anuais do poeta Daniel Augusto Faria a São Pedro das Águias, junto ao rio Távora, na companhia de Carlos Moreira Azevedo (hoje Bispo Auxiliar de Lisboa) e Francisco Jorge Vieira. Hoje, a Associação “Casa Daniel” está muito próxima de se tornar realidade, tendo os seus estatutos sido aprovados pelo Bispo de Lamego. A instituição, que toma o nome de Daniel Faria, tem como objectivos promover encontros de cultura espiritual, fomentar a dimensão religiosa de poetas e artistas, proporcionar momentos de silêncio, oração e pacificação interior. A Casa tem sede no lugar da Quinta da Cruz, local de reserva ecológica, junto da igreja medieval de São Pedro das águias, antigo eremitério cisterciense do Concelho de Tabuado. Em pleno século XXI, é idealizada como um local de “descanso, silêncio, descoberta, encontro e inquietação”, como no passado foram muitos eremitérios. Rezar e ver as amendoeiras em flor pode ser um desafio para os homens e mulheres de hoje. Das ruínas de duas casas nasce, assim, um abrigo em pedra, onde “a porta mora à espera” e “a luz entra sempre de noite”. Para iniciar a Associação, D. Carlos Azevedo oferece o terreno e o projecto (Arquitecto Daniel Finisterra), colocando a sua biblioteca de espiritualidade na Casa. Os interessados em ajudar à causa podem contactar os números 917623711 ou 963277261. Daniel Faria Daniel Augusto da Cunha Faria nasceu em Baltar, Paredes, a 10 de Abril de 1971. Licenciou-se primeiro em Teologia (1996), com uma tese sobre Frei Agostinho da Cruz. Cursou depois Estudos Portugueses, na faculdade de Letras do Porto. Durante esse período (1994-1998) a opção monástica criava solidez. Faleceu a 9 de Junho de 1999, quando estava prestes a concluir o noviciado no Mosteiro Beneditino de Singeverga. A sua obra poética é uma das mais fascinantes da segunda metade do séc. XX português, sobretudo o que diz respeito à relação com “a noite escura” da experiência mística. «Caminho sem pés e sem sonhos só com a respiração e a cadência da muda passagem dos sopros caminho como um remo que se afunda. os redemoinhos sorvem as nuvens e os peixes para que a elevação e a profundidade se conjuguem. avanço sem jugo e ando longe de caminhar sobre as águas do céu». de Explicação das Árvores e de Outros Animais (1998) «Deve ser o último tempo A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos O cadáver onde a aranha decide o círculo. Deve ser o último degrau na escada de Jacob E último sonho nele Deve ser-lhe a última dor no quadril. Deve ser o mendigo à minha porta E a casa posta à venda. Devo ser o chão que me recebe E a árvore que me planta. Em silêncio e devagar no escuro Deve ser a véspera. Devo ser o sal Voltado para trás. Ou a pergunta na hora de partir». de Explicação das Árvores e de Outros Animais (1998) «Sobre a água estarei solto de caminhos Dos que vierem nenhum barco é para ti Não deixes a candeia acesa Dorme: basta-me essa luz». de Explicação das Árvores e de Outros Animais (1998)

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