Um desafio para a Igreja em Portugal

Ecos do Encontro de Taizé Taizé trouxe para Lisboa, nesta passagem de ano, uma experiência radicalmente diferente das nossas vivências mais tradicionais da religiosidade, das expressões de fé, de oração e reflexão. A presença de Jesus não é disfarçada, remetida para o âmbito do exclusivamente privado, nem a diversidade de vivências que ele suscita é anulada. O Encontro Europeu de Jovens (EEJ) chegou ao nosso país após um convite endereçado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, ao Irmão Roger. “Pedimos à Comunidade de Taizé que arriscasse realizar o EEJ em Portugal, neste ano em que estamos mobilizados para o Congresso da Nova Evangelização”, explicou o Patriarca aos jornalistas. “Este Encontro vale por si, ele insere-se numa longa peregrinação de esperança. Aqueles que já conheciam Taizé viveram um momento muito forte, mas em muitos outros jovens terá deixado uma abertura, uma inquietação, para que possam viver Deus sem medos, de uma forma actual, moderna”, referiu. A envolvência das comunidades locais foi saudada por D. José Policarpo, para quem os momentos vividos nas paróquias “permitiram reforçar a ideia de que é na comunidade de todos os dias, de todos os Domingos que a vida cristã se processa”. A resposta dos portugueses não deixou surpreendido o Patriarca de Lisboa, que considera os portugueses “um povo acolhedor”, mas confessa a sua satisfação pelo facto. “São estes momentos muito simples que ajudam a criar os laços que são tão importantes para a nossa Europa e o nosso mundo de hoje, porque somos todos tão iguais nas nossas diferenças”; aponta. O Ir. José Ramon, de Taizé, fala de uma “recepção impressionante” por parte de Portugal. O monge foi responsável pela divulgação do EEJ em todo o país e considera que houve um “verdadeiro esforço de todos na sua promoção”. “Este Encontro foi muito desejado pelos jovens portugueses e estamos muito contentes por termos podido responder a esse desejo”, aponta à Agência ECCLESIA. Uma das Dioceses mais directamente envolvidas no EEJ foi a de Santarém, que acolheu também centenas de participantes nas suas comunidades. D. Manuel Pelino, bispo local, não escondeu alguma surpresa pela adesão das famílias, considerando que “esta época do final do ano é sempre difícil”. “Penso que a peregrinação desperta nas pessoas a mesma atitude de confiança, diálogo, acolhimento, abertura ao outro. No fundo, cria-se uma Igreja universal, que é aquilo que pretendemos”, vinca. O Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, acompanhou de perto vários momentos do EEJ, para conhecer melhor “as sensações que há nos corações dos jovens”. “Verifiquei que jovens e adultos se reuniram para partilhar o que a Comunidade de Taizé tinha para oferecer, de uma forma surpreendente”, afirma à Agência ECCLESIA. “Temos agora a necessidade de dar continuidade localmente, através dos grupos que vieram, a esta iniciativa”, declara. Sobre o futuro imediato que se abre após o final do EEJ, D. José Policarpo alerta para a importância de se compreender que “na dinâmica destes grandes encontros, já sabemos que não se pode esperar que estes momentos se prolonguem ao rubro durante muito tempo”. “São momentos fortes, que marcam o ritmo da vida da mesma maneira que na nossa vida pessoal e familiar nem sempre é festa. Isso é normal, não me assusta nada”, acrescenta. D. Manuel Pelino opta por destacar a herança deixada pela “preocupação de unidade” que marca a Comunidade de Taizé. “A busca da unidade deve estar sempre presente nas nossas comunidades locais”, recorda. O prelado espera que o EEJ possa despertar nos cristãos de Portugal “uma atitude interior de diálogo, universalidade e procura de paz”. “Esta pastoral pode não dar frutos a curto prazo, mas criar uma cultura da paz, uma cidadania global, só nos pode beneficiar”, frisa. Outra das lições que se podem tirar deste Encontro é, para D. Albino Cleto, a urgência de a Igreja em Portugal “se interrogar sobre a coordenação da Pastoral Juvenil”. “Muitos jovens estiveram aqui, mas muitos mais poderiam ter participado”, lamenta. Ao contrário do que pode sugerir uma abordagem precipitada, não se procuram soluções de compromisso para “não ferir susceptibilidades”: no ambiente de silêncio, simplicidade, beleza e comunhão que se procura criar, o fundamental é redescobrir Jesus como a referência espiritual que pode transformar a experiência do quotidiano. O Encontro de Lisboa pode ser um desafio aos cristãos do nosso país, em relação ao modo como rezam, como participam na discussão e solução dos problemas do país, sobretudo na maneira de apresentar Jesus aos que procuram a “espiritualidade” bem longe das comunidades cristãs.

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