Maria de Fátima Sismeiro, Conselho Pastoral Diocesano de Leiria-Fátima
Como cristã e católica, leiga, entendo que o projeto da Conferência Episcopal Portuguesa “ Repensar a Pastoral da Igreja em Portugal “ constituiu um ato de coragem de fé e de humildade, num momento crucial da Igreja e da sociedade, ao assumir que, apesar das muitas atividades, encontros, jornadas, congressos, instituições e todo o trabalho meritório desenvolvido no seio da Igreja (e que é muito!) não se logrou influenciar uma sociedade como a nossa, aliás, com 88,3% de católicos.
Urge assim que, nos vários ambientes, – social, político, cultural, familiar, profissional -, os católicos se determinem, nas várias opções que se lhes deparam, pelos valores do Evangelho, dando assim testemunho de que acreditam na Palavra de Deus e que, por isso, a põem em prática na sua vida quotidiana, assumindo a missão da Igreja que, como disse Bento XVI, é anunciar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvadora, fonte da nossa felicidade definitiva como indivíduos e fundamento de uma sociedade justa e humana.
Ao nível da nossa Diocese de Leiria-Fátima e, em concreto, no seio do Conselho Pastoral Diocesano, fizemos uma reflexão sobre o tema, tendo concluído pela falta de cultura religiosa e laicismo em excesso e pela necessidade de orientações comuns que assentem no essencial e de uma organização e coordenação geral; que os movimentos da Igreja não apresentam reflexos suficientemente significativos capazes de influenciar positivamente a sociedade.
Como sinais novos foi destacada a existência de novos grupos com propostas inovadoras, de um projeto pastoral diocesano, a reorganização da Escola Diocesana Razões da Esperança e de uma maior e melhor consciência de Igreja com uma maior participação dos leigos que sentem a necessidade de mudar e inovar.
Como prioridades pastorais foram sugeridas uma maior contenção de propostas e mensagens com vista a uma maior qualidade, interiorização e discernimento do essencial; um maior cuidado aos que sofrem, a humanização das relações, o acolhimento, a comunhão fraterna e a promoção da espiritualidade, a necessidade de (re)descobrir a responsabilidade de sermos cristãos e o diálogo com o mundo.
Assumimos que o testemunho cristão é determinante para aquela influência devendo este capacitar-se para o efeito, através da formação, da oração e da frequência dos sacramentos.
Que devemos avançar para a reorganização das comunidades cristãs, estribada nos valores do Evangelho, recentrada em Cristo, com uma liderança forte, que potencie o sentimento de pertença, a abertura a quem chega de novo e que servirá também de apoio ao cristão que se assume como tal, individualmente, nos locais de trabalho ou noutros lugares da sociedade civil, afirmando aqueles valores que, na maior parte das vezes, não são aceites.
Que a Igreja terá de adotar uma posição mais interventiva na questão da defesa dos valores e desenvolver uma pastoral de maior proximidade à pessoa e reduzir o número de estruturas.
Na nossa Diocese, tendo como ponto de partida a Carta Pastoral do nosso Bispo D. António Marto “Testemunhas de Cristo no Mundo” e como lema bíblico “Brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt. 5,16) que nos interpela a assumir que, sendo “o testemunho o meio com o qual a verdade do amor de Deus alcança o homem na história” ( SC n.85), somos chamados a transmitir a diferença evangélica na histórica, a dar uma alma ao mundo, para que a humanidade possa caminhar em direção à plenitude do reino de Deus, como nos diz um escrito do século II.
Tenho a consciência de que, nos espaços em que me movo, não é fácil ir contra a corrente dominante, as modas, o mimetismo fácil; como é difícil desinstalarmo-nos ou desinstalar; como é difícil acreditar que a Palavra de Deus, “funciona” e se realiza na nossa vida; que preço devemos e temos de pagar pela fidelidade ao Evangelho?!
Mas é minha convicção que será por aí que se abrirá caminho! Não podemos deixar de estar conscientes das falências de outras “influências” que têm acabado por dominar por serem mais apelativas, supostamente “preenchendo” um espaço que, provavelmente, nós cristãos deixámos vazio.
Como se diz no documento da CEP “… persistem nos corações humanos os anseios pela espiritualidade e pela comunhão com o mistério divino. E percebe-se o desafio à Igreja de saber comunicar o Evangelho … como Palavra que dá vida e vida em abundância”.
Terminando como comecei no início, como cristã e católica, leiga, não posso ter uma vida dupla. A minha fé acompanha a minha vida familiar, social, política e profissional.
Maria de Fátima Sismeiro, Conselho Pastoral Diocesano de Leiria-Fátima