Um Ano para durar sempre

Depois da ceia pascal em quinta-feira santa, celebrada por Jesus Cristo com a comunidade dos apóstolos, todos os anos são anos eucarísticos. Desde então o cristianismo está essencialmente ligado à Eucaristia: «Fazei isto em memória de mim». Ser eucarístico é uma nota obrigatória do bilhete de identidade do cristão. Para que a Igreja possa viver mais em cheio esta celebração da fé na presença viva e actuante de Cristo, o Papa João Paulo II convocou o povo cristão para um «Ano da Eucaristia», no encerramento do último Congresso Eucarístico Internacional, no dia 17 de Outubro de 2004, que se realizou na cidade de Guadalajara, no México. Como conclusão deste particular ano, está-se celebrando em Roma o Sínodo dos Bispos, centrado precisamente sobre o tema: «A Eucaristia, centro e cume da vida da Igreja». Participam 256 Bispos de 118 países, assessorados por 32 peritos e com a presença de 27 ouvintes. A Conferência Episcopal Portuguesa, para a representar, elegeu o Bispo de Coimbra (D. Albino Cleto) e o Bispo de Viseu (D. António Marto). O ritmo de trabalho tem sido intenso, com sessões inclusive aos sábados, com 7 horas de trabalho em congregação cada dia. Novidades no método nesta XI Assembleia geral ordinária do Sínodo do Bispos: os discursos dos Padres Sinodais são apenas de 6 minutos (inexoráveis 6 m., porque o microfone vem desligado); ao fim de cada dia, há uma hora para intervenções livres, de 3 minutos cada: comentários ao que foi dito, perguntas e respostas… Espera-se que este Sínodo, que está celebrando o seu 40º aniversário da sua criação pelo Concílio Vaticano II (no último sábado, houve uma sessão comemorativa), seja eminentemente pastoral e inspirador, que dê um novo impulso à vivência e celebração da Eucaristia, particularmente no Domingo, o Dia do Senhor. É que os aspectos doutrinais estão suficientemente claros, recentemente tratados na última Encíclica do Papa João Paulo, «Ecclesia de Eucharistia»; e os aspectos mais pragmáticos ou disciplinares foram abordados, no ano passado, na Instrução «Redemptionis Sacramentum» pela Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Esta expectativa encontrei-a sublinhada em colóquio com alguns dos participantes no Sínodo. Faltam já menos de duas semanas para a conclusão do «Ano da Eucaristia». Ouso apresentar algumas linhas de pré-avaliação do «Ano da Eucaristia»: – Este Ano chamou a atenção para a pedra angular do cristianismo: Jesus Cristo, porque a Eucaristia é exactamente Cristo. Usando uma expressão do mundo da justiça: A Eucaristia é Cristo, todo Cristo, só Cristo, nada mais do que Cristo. Renovar a fé e a vivência eucarística (celebração, comunhão, adoração e caridade) é evangelizar a Igreja, é converter os cristãos mais a Cristo. – Foi como um Curso de Formação Permanente sobre a Eucaristia, ou, com mais exactidão teológica, sobre Cristo eucarístico. Incontáveis livros, artigos e material catequético se publicaram; infindos cursos, encontros, simpósios e congressos se promoveram… Tudo isto aos mais diversos níveis, desde o mais simples e popular até ao mais académico e de investigação dogmática e bíblica… – Foi ocasião de revitalização das práticas ligadas à Eucaristia, começando pela sua própria celebração (digna e bela, fiel e festiva, sacrifício e banquete, solene e viva): adoração ao Santíssimo (visitas, horas santas, lausperenes, bênçãos), viático levado aos idosos e enfermos… Nunca faremos bastante para darmos o relevo que merece a Eucaristia, pois nela temos realmente presente o mesmo Cristo de Belém e de Nazaré, do Cenáculo e do Calvário, ressuscitado e vivo, hoje, na Igreja que Ele fundou e que agora sustenta com a sua carne e o seu sangue eucarísticos. – Convocou o Povo de Deus para grandes celebrações festivas, reunido em Jornadas, Assembleias e Congressos Eucarísticos, aos mais diversos níveis. A Eucaristia foi motivo de reunião e encontro, de celebração e festa. Cristo continua a ser «aquele sedutor» irresistível, quando se lhe abre a porta da nossa liberdade. – Levou a gestos de compromisso de caridade e justiça, porque a Eucaristia não é apenas para celebrar, comungar e adorar, mas também para praticar. Celebramos quem nos lava os pés, aquele que proclamou o mandamento do amor como resumo de toda a lei, quem deu e continua a dar a sua vida por nós. Na abertura do «Ano da Eucaristia», a Igreja de Guadalajara, onde se realizou o último Congresso Eucarístico Internacional, como «monumento» evocativo, abriu uma Casa de Acolhimento, para pessoas que vivem à margem da sociedade. Muitas campanhas, gestos e obras sociais foram dinamizados ou criados por ocasião do «Ano da Eucaristia», que importa praticar sempre mais. Muito foi feito, mas muito continua ainda por fazer. Por isso, intitulei estas linhas de «Um Ano para durar sempre». Não será evangélico descansarmos no sofá dos méritos acumulados, pois importa programar o que se deve seguir ao «Ano da Eucaristia». O Sínodo dos Bispos concluir-se-á no Domingo, dia 23 de Outubro. Depois de votar as Proposições que entregará ao Papa, dirigirá uma Mensagem ao Povo de Deus… Finalmente, a seu tempo, o Papa apresentará uma Exortação Apostólica, partindo das proposições dos Bispos. Na Eucaristia conclusiva do Sínodo, o Papa Bento XVI presidirá a algumas canonizações, entre as quais a do P. Alberto Hurtado (1901-1952), beatificado por João Paulo II em 1994, e que é uma figura extremamente popular no Chile, onde fundou a obra «O Lar de Cristo», para os mais pobres e marginalizados. Um homem que viveu profundamente dado a causas sociais, haurindo a sua inspiração e força na Eucaristia. Assim afirmou: «A minha Missa é a minha vida, e a minha vida é uma Missa prolongada». O círculo virtuoso entre vida quotidiana e Eucaristia tem que ser intensificado sempre mais, a fim de que as comunidades cristãs celebrem o que vivem e vivam o que celebram: Cristo Jesus, humanamente divino e divinamente humano. Manuel Morujão, S.J.

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