Um ano a servir os peregrinos em Taizé

Testemunho de dois voluntários de longa duração

A vida na comunidade de Taizé tem uma organização semanal. O Domingo é o dia do acolhimento e também o dia em que tudo parece estranho. Apenas um sintoma de primeiro dia. Tudo está organizado, mas quem chega tem o seu lugar esperado.

 

As experiências semanais podem multiplicar-se por várias semanas e há quem decida ficar mesmo por um ano e trabalhar na comunidade, ajudando nas tarefas. São os voluntários de longa duração.

 

A Agência ECCLESIA conversou com dois. João Bateira é português e encontra-se na comunidade desde Outubro. É natural do Porto e foi através de amigos e de familiares que decidiu, em Junho de 2008, passar três semanas em Taizé. Mas esta primeira experiência não foi suficiente e voltou por um ano. “Este é o local ideal para organizar a vida. Precisava de fazer uma pausa e queria conhecer melhor a comunidade para decidir um rumo novo”, explica.

 

Aqui encontrou coisas que desconhecia em Portugal. “A experiência de Igreja é valiosa, tal como em Portugal, mas a vida comunitária que aqui vivo não encontrei em Portugal”. A vida da comunidade, as orações cantadas, toda a liturgia, é muito diferente do habitual. “Não é melhor nem pior, mas esta, especificamente, tocou-me muito”. Reconhece que a sensibilidade advém do enquadramento no modo de vida da comunidade. “Longe do ruído da cidade, com três pausas para oração por dia, é um ritmo que dá oportunidade para que outras coisas nos toquem”.

 

É sem constrangimentos que reconhece que em Taizé é mais ele. “Sinto-me mais próximo do que sou. Acho que é o que falta a muitos de nós. Aqui acho que me reencontrei. Não estou diferente. Acho é que estou mais igual a mim mesmo”.

 

Desde Outubro, João Bateira já passou por várias tarefas. “Mudamos todas as semanas de tarefas”. O João já esteve na preparação do espaço para as orações na Igreja, na distribuição da comida, na casa dos rapazes em silêncio, já apanhou lixo, já conduziu um tractor. Actualmente está no acolhimento na «La Morada».

 

As tarefas ajudam a criar o espírito de comunidade. “Todas as pessoas encontram o seu lugar na comunidade, mesmo que estejam a fazer tarefas muito simples. Mas esse espaço torna-as participantes numa vida”.

 

Para o João, o que marca a diferença são as orações por dia. “Taizé não é um mundo à parte. É permeável aos problemas da sociedade actual. Mas sendo uma vida ritmada pelas três orações e o facto de proporcionar uma reflexão à volta do Evangelho, permite que os jovens vivam algo diferente e surpreendente durante uma semana”.

 

Toda a comunidade de Taizé está organizada. Há quem diga que são regras rígidas, mas de tão simples e participadas, tudo parece feito com naturalidade.

 

As pessoas chegam e são-lhes atribuídas tarefas. Limpar as cozinhas ou as casas de banho, as camaratas ou as casas das famílias, despejar o lixo, cuidar das crianças, são tarefas simples que geram uma comunidade organizada.

 

Do outro lado do Atlântico

Allisson Miller junto à capela de TaizéA Allison Miller, é uma jovem americana, natural da Califórnia. Desde cedo percebeu que havia mais no mundo do que aquilo que experimentava em casa. Cresceu numa família baptista, mas frequentou um colégio protestante e uma igreja anglicana. Descobriu Taizé nessa comunidade anglicana que mensalmente organizava oraçõe. “Comecei a participar durante a faculdade, mas desconhecia que existia uma comunidade. Não sabia de onde vinham as orações e os cânticos”, reconhece.

 

Em Outubro passado decidiu que não estava preparada para começar a trabalhar. Terminada a universidade, “percebi que havia muitas coisas no mundo que eu gostava de explorar e também formas diferentes de viver uma vida cristã que eu ainda não tinha experimentado em casa”.

 

Allison decidiu passar um tempo da sua vida a viajar pela Europa. Planeava passar um tempo em Paris, quando um padre lhe contou a experiência de um retiro feito em Taizé. Allison decidiu então rumar à comunidade ecuménica, no Sul de França, e passar uma semana. No final desse tempo, teve de regressar, porque já tinha bilhete de volta, “mas poupei algum dinheiro, comprei um bilhete e voltei”.

 

Está na comunidade há quatro meses e diz que aqui “a experiência de Deus suplanta quaisquer palavras que possamos usar”.

 

Foi a experiência de Deus nas orações que mais lhe tocou. “Podemos falar com Deus, podemos rezar, cantar, mas os silêncios mostram também que há outro lado mais misterioso que não podemos traduzir por palavras, mas podemos experimentar”.

 

Na vida da comunidade dos irmãos reconhece uma “grande abertura, mas também um grande mistério”. 

 

“É fascinante a forma como os irmãos de Taizé se distanciaram do mundo mas são tão acolhedores e acolhem pessoas de todo o mundo de forma tão única”.

 

Allison elege ainda o contacto que mantém os outros voluntários de longa duração. “Ficamos a conhecer pessoas de todo o mundo que estão à procura do mesmo que procuras”.

 

Os voluntários de longa duração têm tarefas fixas. “Geralmente ficamos em locais onde é preciso mais treino e requer mais alguma responsabilidade”. Allison trabalha no Oyak, o bar da comunidade de Taizé. Mas já trabalhou com as crianças, com as famílias e já participou de outras tarefas rotineiras como limpar casas de banho, organizar equipas, mudar as camas, ajudar a preparar as refeições, ajudar a limpar os pratos.

 

A vida na comunidade é organizada de tal forma que as orações são o central. “O trabalho que faço é prático, por vezes é intenso e pode haver distracções, mas sei que a determinada hora eu vou rezar e isso é o centro. A vida é organizada em torno de Deus. Lá fora, há tantas distracções na escola e no trabalho que parece difícil parar e estar em comunhão com ele e ouvi-lo”.

 

Estar em Taizé implica uma escolha. “Aqui escolhemos abrir um espaço e um tempo para ele. Sinto-me em paz”, frisa.

Allison está em Taize por um ano. Daqui a nove meses tenciona voltar para casa. “Acredito que lá fora será possível continuar o que vivo aqui. Quero acreditar que sim”.

 

No regresso à Califórnia Allison quer partilhar a experiência que viveu em Taizé. “Há muitas experiências valiosas por onde passei que acredito poderei partilhar, talvez não replicar, mas tentar explicar o mistério de Deus. Planeio procurar essas formas”.

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