Último adeus a Chiara Lubich

Milhares de pessoas têm recordado a fundadora do Movimento dos Focolares Milhares de pessoas quiseram dar o seu último adeus a Chiara Lubich, fundadora dos Focolares (www.focoare.org), falecida na Sexta-feira passada, 14 de Março, aos 88 anos. Espera-se por isso uma grande participação no seu funeral, que acontece esta terça-feira, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, cerimónia presidida pelo Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano. Antes do funeral haverá uma hora de cantos e meditações de Chiara Lubich, bem como testemunhos de pessoas de outras confissões e religiões. Chiara Lubich será enterrada em Rocca di Papa, na capela do Centro Internacional do Movimento. Notas biográficas A Ideia Inspiradora – Uma das primeiras ideias nasceu em Trento, debaixo dos bombardeamentos, numa cave escura, à luz de uma vela. «Com as minhas primeiras companheiras – são palavras de Chiara Lubich – abro o Evangelho ao acaso na página do Testamento de Jesus: “Pai, que todos sejam um, como Eu e Tu”. Aquelas palavras, antes quase desconhecidas, brilharam como o sol na noite. Percebemos que tínhamos nascido para aquela página! Intuímos que iria nascer qualquer coisa de universal que iria chegar até aos confins da Terra e que iria iluminar a arte, a ciência, a política e a economia. Tínhamos a certeza de que Deus iria conduzir a nossa vida para uma aventura divina, até então desconhecida, onde, simultaneamente espectadores e actores do seu plano de amor, iríamos dar momento a momento, o contributo da nossa livre vontade». “Que todos sejam um, como Eu e Tu”. São palavras que incidem em Chiara como uma marca de fogo. É este o seu carisma. Passa a ler, e a viver, o Evangelho a partir da perspectiva da unidade. É ela própria quem escreve: «Pensávamos que bastava viver o Evangelho – mas, de repente, o Espírito sublinhou-nos algumas Palavras que passaram a ser os princípios operativos de uma nova corrente espiritual: a espiritualidade da unidade». Desde o início, a unidade entre pessoas, categorias sociais, povos, é indicada por Chiara Lubich como o primeiro empenho radical. É nesta luz que ela vai lendo os acontecimentos, chamando todos a participar conscientemente na gestação de um mundo novo: o mundo unido. De facto, esta corrente de espiritualidade revela-se cada vez mais universal, porque o amor e a unidade estão no coração de todos os homens. É a partir desta nova vida, vivida por pessoas de todas as idades, categorias sociais, culturas, raças e crenças, não só leigos mas também sacerdotes, religiosos e religiosas, que dá origem a um movimento de renovação espiritual e social de dimensões mundiais: o Movimento dos Focolares. Chiara conduz este movimento e promove continuamente novos desenvolvimentos, com um único objectivo: contribuir para a fraternidade da família humana, segundo o projecto divino que está inscrito no Evangelho. ORIGENS – Chiara nasceu em Trento, a 22 de Janeiro de 1920. A sua família era economicamente modesta. O pai era tipógrafo. A família viveu na pobreza durante vários anos devido à crise económica daquele tempo. Apesar de muito jovem, começou a dar aulas privadas para poder continuar a estudar. Da mãe, uma cristã fervorosa, recebeu a fé. Do pai, não religioso, uma sensibilidade aos problemas sociais. Desde criança que começou a crescer nela um chamamento a uma “vida cristã de alto nível”. Aos 18 anos começou a ensinar nas escolas primárias. Mas sentia uma forte exigência de procura da verdade, da procura de Deus. Inscreve-se na Faculdade de Filosofia em Veneza. Interrompeu os seus amados estudos por causa da guerra. Mas mantém uma certeza: Jesus, “caminho, verdade e vida será o seu mestre”. Com 19 anos, começam os episódios sintomáticos da sua aventura espiritual. No santuário de Loreto, onde a tradição diz que está guardada a casa onde viveram Jesus, José e Maria, teve a intuição de que iria nascer um novo caminho na Igreja, segundo o modelo da família de Nazaré, e que muitos a iriam seguir. Rebenta a Segunda Guerra Mundial. Em 1943, a cidade de Trento sofreu violentíssimos bombardeamentos. Mas é precisamente naquele clima de ódio e de violência, que Chiara faz a “fulgurante descoberta” de Deus Amor. Escolhe-O como o tudo da sua vida. No dia 7 de Dezembro de 1943 dá-se a Ele para sempre. O seu nome de baptismo é Sílvia. Muda para Chiara, porque fascinada pela radicalidade evangélica de Clara de Assis. Para os abrigos antiaéreos, com as suas primeiras companheiras, leva só o Evangelho. Aquelas palavras iluminam-se com uma luz nova. Começam imediatamente a pô-las em prática. No meio dos destroços da guerra inicia uma experiência de redescoberta do Evangelho, começando pelos bairros mais pobres de Trento, com o objectivo de resolver os problemas sociais da cidade. No Mandamento a que Jesus chama novo e seu: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, intui que está a lei para que a humanidade dispersa se volte a unir. Começam a viver este mandamento com radicalidade. Escreve Chiara: “Púnhamos tudo em comum: coisas, casas, ajudas, dinheiro. A nossa vida deu um salto de qualidade. Experimentámos aquela alegria, paz, força e frutos do Espírito, sinais inconfundíveis da presença viva do Ressuscitado, prometida a “dois ou mais reunidos no Seu nome”. E em 1948 escreveu: “É Ele que nos esclarece e que nos diz aquilo que devemos fazer para que haja no mundo a paz verdadeira”. É Ele que faz com que todos sejam um, anulando ódios e rancores, barreiras e conflitos, tornando possível a realização da última oração de Jesus “Que todos sejam um”. “Num mundo cada vez mais impregnado de materialismo, em que se acredita só naquilo que se toca – continua Chiara – o Senhor pensou em mandar uma espiritualidade onde, de certa forma, se toca no divino”. OS DIÁLOGOS – Para além de todas as expectativas, é a própria Chiara que, no Movimento, abre os diálogos perspectivados pelo Concílio Vaticano II. São caminhos privilegiados para contribuir para a realização da unidade da família humana. Diálogo ecuménico – Diante das divisões entre cristãos, é o seu testemunho do evangelho vivido, narrado em 1961 a um grupo de evangélico-luteranos na Alemanha, que abre a página ecuménica dos Focolares. Chiara começa a estabelecer relacionamentos pessoais, encorajada pelos responsáveis de várias Igrejas – que conhece em Londres, Alemanha e Istambul – difundindo a espiritualidade da unidade, que é cada vez mais reconhecida como espiritualidade ecuménica. Diálogo inter-religioso – Impulsiona, em primeira pessoa, o diálogo inter-religioso que se revela fecundo, sobretudo a nível da espiritualidade. É uma experiência que amadureceu ao longo dos anos que, agora, com a aproximação de civilizações e culturas antigamente longínquas, coloca desafios novos ao Ocidente. Foi a primeira mulher cristã a expor a sua experiência do Evangelho, em 1981, num templo em Tóquio diante de 10.000 budistas, e em 1997 na Tailândia a monjas e monges. Nesse mesmo ano foi convidada a tomar a palavra na histórica mesquita “Malcom X” de Harlem (Nova Iorque) diante de 3000 muçulmanos. O diálogo desenvolve-se em vários países também com os hebreus, muçulmanos, hindus, taoistas sikhs e animistas. São mais de 30.000 os fiéis de várias religiões que, de diferentes formas, partilham o espírito da unidade dos Focolares. Diálogo com pessoas de convicções não religiosas – Tendo ultrapassado a Cortina de Ferro, no início dos anos 60, o Movimento difundiu-se no Leste europeu. Chiara deslocou-se a Budapeste e foi 9 vezes a Berlim-Oriental. Pessoas não crentes, de diferentes ideologias, ficaram fascinadas pelo ideal da unidade. Quase 70.000 aderem ao Movimento. RENOVAÇÃO SOCIAL – Desde as origens do Movimento que Chiara não via na descoberta do Evangelho um facto somente espiritual, mas tinha a certeza de que o Evangelho vivido traz consigo a mais poderosa revolução social. Nesta última década está a vir em relevo a renovação operada nos mais variados âmbitos da cultura, economia, política, comunicação, arte e ciência. Dois exemplos. Desde 1991, durante uma viagem ao Brasil, diante dos enormes desequilíbrios económicos daquele país, dá início a um movimento no campo económico com o projecto de economia de comunhão que inspira a gestão de mais de 700 empresas de produção e serviços “for profit” nos cinco continentes, onde uma parte dos lucros são partilhados com os mais desfavorecidos. Esboçam-se as linhas de uma nova economia capaz de incidir nos enormes desequilíbrios entre ricos e pobres. Estão já em plena actividade três Pólos empresariais nas cidadelas de S. Paulo (Brasil), O’Higgins (Argentina) e Loppiano (Florença). Em 1996, Chiara dá início ao Movimento político pela unidade ao qual, actualmente, aderem políticos de diferentes facções, em vários países, que têm em comum a mesma categoria política: a fraternidade universal. RECONHECIMENTOS – De 1995 a 2008, os reconhecimentos da parte civil e religiosa que lhe foram atribuídos pelas organizações internacionais, como o Prémio Unesco da Educação para a Paz, os doutoramentos honoris causa em várias disciplinas, as cidadanias honorárias, foram para Chiara uma ocasião para testemunhar o seu ideal da unidade que se revela cada vez mais como uma resposta às profundas transformações que se estão a observar neste novo século. (Movimento dos Focolares) Foto: Thomas Klann

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top