Uganda: «Ambrosoli mudou o rumo da minha vida», afirma o também missionário e médico Rosário Iannetti

Atualmente a trabalhar nas missões do Sudão do Sul, Iannetti foi recebido no pelo padre Giuseppe Ambrosoli, em Kalongo, em 1986

Foto Agência ECCLESIA/HM, Rosário Iannetti

 

Henrique Matos, enviado especial da Agência ECCLESIA ao Uganda

Kalongo, Uganda, 20 nov 2022 (Ecclesia) – Rosário Iannetti, jovem estudante de medicina, decidiu fazer uma experiência de voluntariado em África a convite do padre Giuseppe Ambrosoli, em 1986, para ensinar fisioterapia a alguns enfermeiros do Hospital de Kalongo, no Uganda.

O diretor Hospital de Kalongo era o padre Giuseppe Ambrosoli, um missionário Comboniano, médico e com um apelido conhecido em toda a Itália pela indústria do mel e dos caramelos pertencente à família.

Rosário Iannetti recorda um hospital cheio de feridos de guerra, numa ocasião em que o atual presidente do Uganda tinha tomado o poder na capital e o exército do governo precedente estava em retirada para o norte provocando um clima de instabilidade.

“Era a primeira vez que estava em África. Cheguei num ambiente de guerrilha e sem nada porque a minha mala tinha ficado perdida no avião”, recorda Rosário Iannetti, com um misto de prazer e trauma.

Mas as recordações iniciais que Iannetti guarda de Ambrosoli são reveladoras da sua proximidade generosa: “Ofereceu-me logo um dos seus pijamas. Ele era o diretor do hospital mas, sendo uma figura importante era também muito humilde, acessível e atento às necessidades de cada um e também as minhas”.

Foto Agência ECCLESIA/HM, Rosário Iannetti

Naquele mês Iannetti trabalhou na fisioterapia mas tinha um interesse especial por outra área da medicina.

“Eu pensava tornar-me cirurgião e pedi a Ambrosoli para assistir às operações. Ele aceitou-me no bloco operatório e pude observar as suas intervenções cirúrgicas que eram sempre as mais importantes e sensíveis”, recorda Rosário Iannetti.

Nesses dias, a guerrilha Acholi tomou o hospital e Rosário Iannetti não pode regressar a Itália.

“Lembro que Ambrosoli, com muita calma, disse para eu não me preocupar porque ele conhecia os Acholi, conhecia a sua língua e já ali estava há trinta anos. Ele  transmitia segurança”, recorda Rosário Iannetti.

“Hoje que sou diretor de um hospital no sul do Sudão imagino o que diria a um jovem voluntário numa situação de guerrilha”, afirma.

Rosário Iannetti acabaria por regressar a Itália um mês mais tarde que o previsto; concluiu os seus estudos em medicina e tornou-se cirurgião e hoje é Missionário Comboniano no sul do Sudão e, como Ambrosoli, também ele é diretor de um hospital naquela país africano e não duvida que aquele mês em agosto de 1986 com Giuseppe Ambrosoli mudou a sua vida.

“Ambrosoli tinha uma enorme confiança em Deus e na providência. Trabalhava muito como médico mas nunca tirava tempo à oração. O seu exemplo, a sua atitude definiram o discernimento da minha vocação e tornei-me missionário Comboniano” afirma Iannetti que, não sendo padre, é irmão Comboniano exercendo a sua missão no sul do Sudão.

Natural de Itália, o Giuseppe Ambrosoli formou-se em medicina e cirurgia, tendo-se especializado em doenças tropicais em Londres, antes de decidir ser missionário comboniano, onde foi ordenado padre a 17 de dezembro de 1955.

Em fevereiro de 1956, o padre Giuseppe Ambrosoli partiu para África, enviado para Kalongo, uma vila perdida na savana, no norte de Uganda, para administrar um pequeno dispensário médico, que transformou num hospital e onde permaneceu até à sua morte, em 1987.

HM/PR

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