Leiga missionária, ligada aos Redentoristas, destaca importância do trabalho em rede para acolher refugiados
Porto, 24 abr 2022 (Ecclesia) – Inês Nabais, leiga missionária que trabalha na comunidade Redentorista de Vila Nova de Gaia, acompanhando o acolhimento de refugiados, sublinhou a necessidade de trabalhar em “rede” para acolher quem foge da guerra na Ucrânia.
“Não são todos os que chegam sem nada, mas todos necessitam de ser resgatados”, refere a convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.
A entrevistada admite que nem todas as pessoas “estão no mesmo patamar” e algumas poderiam pagar rendas, uma situação que está a ser dificultada por causa da “especulação imobiliária”.
Mais de 5 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, após o início da guerra, a 24 de fevereiro, segundo dados do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Em Portugal, comunidade ucraniana duplicou desde o início da invasão russa e, de acordo com os últimos dados oficiais do Governo, os pedidos de proteção temporária concedidos já ultrapassaram os 31 mil.
As instalações do Seminário de Cristo Rei, em Vila Nova de Gaia, acolheram vários refugiados nos últimos dois meses, 60 dos quais permanecem no local, de forma temporária; 41 já estão recolocadas em habitações definitivas.
“Eu diria que a principal barreira é mesmo a língua”, assinala Inês Nabais, destacando o alcance de uma onda solidária que começou de forma “muito espontânea” e foi ganhando dimensão com a construção de uma rede de parceiros.
“O segredo está aqui, está na criação de rede. Nós sozinhos não conseguimos fazer nada”, realça.
Os contactos passam pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), ARS Norte e entidades privadas
“Não conseguimos fazer nada sozinhos”, aponta a leiga missionária.
Inês Nabais dá conta de várias situações em que as pessoas perderam o “interesse” pelas ações solidárias e das dificuldades de quem “acho que podia fazer tudo sozinho” e agora não consegue dar resposta aos compromissos assumidos.
Para ajudar, nós temos de ser muito racionais. A emoção pode jogar contra a própria ajuda, dizer ‘não’ às vezes é estar a dizer ‘sim’ a uma série de situações.
Ao Seminário Redentorista Cristo Rei não chegou nenhuma pessoa vítima de tentativas de tráfico ou de exploração, mas há relatos dessas situações, bem como de discriminação dos refugiados, conforme a sua nacionalidade.
“É evidente que os ucranianos estão a ter uma estrada mais livre para entrar, porque são europeus, do que propriamente um afegão ou um sírio, ou alguém de outra proveniência, nomeadamente mediterrânica”, aponta a entrevistada.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)