«Nunca é tarde para se chegar a um acordo» – Cardeal Pietro Parolin
Cidade do Vaticano, 12 mar 2022 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano disse hoje que é tempo de dizer “basta” à guerra na Ucrânia, reforçando os apelos da Santa Sé para que se promovam negociações de paz.
“A posição da Santa Sé é a que o Papa repetiu várias vezes: um ‘não’ firme à guerra! A guerra é uma loucura, precisa de ser parada! Apelamos à consciência de todos, para que os combates cessem imediatamente”, refere o cardeal Pietro Parolin, em entrevista aos media do Vaticano, publicada online e enviada à Agência ECCLESIA.
O colaborador do Papa fala das “terríveis imagens” que chegam da Ucrânia desde a invasão russa, iniciada a 24 de fevereiro, evocando em particular “as vítimas entre os civis, mulheres, idosos, crianças indefesas, que pagaram com a sua vida a loucura desta guerra”.
“Quem permanece impassível deve ter um coração de pedra, permitindo que continuem esta destruição e os rios de sangue e lágrimas”, acrescenta.
O responsável pela diplomacia do Vaticano fala em “barbárie” e pede que todos se deixem sensibilizar pela “angústia de ver cidades e casas destruídas, sem eletricidade, temperaturas abaixo de zero, falta de alimentos e remédios”.
“Milhões de refugiados, sobretudo mulheres e crianças, fogem das bombas”, prossegue.
Nos últimos dias, encontrei-me, por acaso, com um grupo destas pessoas, que conseguiram vir para a Itália de várias partes da Ucrânia: olhares absortos, lábios sem sorriso, tristeza infinita… que culpa têm essas jovens mães?”.
D. Pietro Parolin recorda a visita do próprio Papa Francisco à embaixada da Rússia a 25 de fevereiro, em Roma, falando num gesto “sem precedentes”.
O secretário de Estado do Vaticano conversou telefonicamente, esta semana, com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, a quem transmitiu “o apelo do Papa por um cessar-fogo imediato”, reiterando a “total disponibilidade da Santa Sé para qualquer tipo de mediação para promover a paz na Ucrânia”.
O cardeal lamenta a prevalência de uma “lógica da guerra” e, embora recordando a “legitimidade da resistência armada diante de uma agressão”, questiona se todos fizeram o possível para se chegar a uma trégua.
“A paz não é uma utopia! Tantas pessoas estão a correr o risco de perder as suas vidas inocentes! Por isso são necessárias iniciativas político-diplomáticas abrangentes para um cessar-fogo imediato e o início de negociações para uma solução não-violenta”, indica.
“A Santa Sé está disposta a fazer todos os possíveis, neste sentido”, reafirma.
O responsável diplomático justificou as palavras de Francisco, que no último domingo disse que a Ucrânia vive uma “guerra” e não uma “operação militar”, contrariando assim a versão oficial da Rússia.
“Definir que o que está a acontecer na Ucrânia como uma operação militar está fora da realidade. Estamos diante de uma guerra, que, infelizmente, ceifa a vida de muitos civis, como sempre acontece com todas as guerras”, sustentou.
O cardeal Parolin sublinha, no entanto, que todos devem reconhecer responsabilidades no agravamento do conflito.
“Após a queda do Muro de Berlim, não conseguimos construir um novo sistema de convivência entre as nações que fosse além das alianças militares ou dos interesses económicos”, realça.
OC
Ucrânia: Secretário de Estado do Vaticano conversou com ministro russo dos Negócios Estrangeiros