André Costa Jorge destaca necessidade de ir além das respostas imediatas
Lisboa, 22 mai 2022 (Ecclesia) – O coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS)-Portugal alertou para a existência de casos que podem “constituir uma situação de exploração de mão de obra” de quem chega da Ucrânia.
“Acompanhamos algumas situações que podem constituir situações de abuso de posição no acolhimento, é verdade. Temos conhecimento de algumas situações em que, quem acolhe, acaba por não conferir à pessoa que foi acolhida condições justas”, disse André Costa Jorge, em entrevista à Agência ECCLESIA e Renascença.
O responsável exemplificou, indicando que “há pessoas que acolhem alguém numa casa e oferecem também trabalho, mas depois não há pagamento de salário”.
“O que fazemos é ajudar a retirar as pessoas refugiadas destas situações e reportamo-las às autoridades competentes”, acrescentou.
Quase três meses depois do início da invasão da Ucrânia, o coordenador da PAR apelou ao rápido esclarecimento da polémica à volta do acolhimento de refugiados em Setúbal, a respeito das suspeitas envolvendo a associação de imigrantes dos países de Leste.
“Alegadamente, há a possibilidade de informação que as pessoas transmitiram às pessoas que eram responsáveis pelo seu acolhimento no terreno e a informação que pode ser usada para fins dos interesses de uma das partes do conflito e, portanto, desde logo essa suspeita põe em causa aquilo que são os deveres do Estado português de proteção destas pessoas. É tão simples quanto isso”, declarou.
Para o responsável, o acolhimento de médio e longo prazo deve ser melhorado e não deve ser apenas visto esta dimensão do acolhimento imediato.
“A forma como respondemos ao drama dos que procuram proteção e refúgio determina o sucesso das nossas sociedades”, sustentou.
André Costa Jorge referiu que “90% a 95% das pessoas” acolhidas “desejam regressar” à sua casa, por terem a convicção de que “a Ucrânia e o governo ucraniano vão vencer esta guerra”.
O entrevistado elogiou o esforço do Papa para que ninguém seja esquecido, ao lembrar que “não pode haver bons refugiados e maus refugiados”.
“O Papa Francisco tem sido uma voz única”, assinalou.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)