Ucrânia: Cáritas, focada na ajuda essencial, diz que guerra vai deixar «traumas»

Organizações ligadas à Igreja latina e à Igreja greco-católica trabalham em conjunto, para apoiar com alimentos, medicamentos e ajuda psicológica

Foto: Cáritas Ucrânia

Lisboa, 01 mar 2022 (Ecclesia) – A Caritas internacional organizou hoje uma conferência de imprensa com a participação da Cáritas Ucrânia e a Caritas-Spes da Ucrânia no trabalho de apoio à população “deslocada” e aos que “ficaram para trás”.

“Há muitas pessoas em trânsito para a fronteira, que param na Ucrânia ocidental. São maioritariamente mulheres e crianças que tentam passar a fronteira. Temos 25 centros que acolhem as pessoas no caminho, e damos comida e abrigo, apoio psicológico para as acompanhar e elas prosseguirem, mas há muitas pessoas que ficaram para trás por causa dos bombardeamentos”, explica Tetiana Stawnychy, presidente da Cáritas na Ucrânia, durante a conferência de imprensa.

A Ucrânia tem duas organizações Cáritas no país: uma ligada à Igreja latina e outra da Igreja greco-católica, ambas reconhecidas pela Confederação Internacional da Cáritas, e a trabalhar em conjunto.

A responsável pela Cáritas Ucrânia, ligada rito grego-católico, afirmou que a preocupação se prende com “as coisas imediatas” e com a garantia de existirem “corredores humanitários” para chegar às pessoas com a “ajuda suficiente a vários locais”.

“É uma necessidade imediata. Há vários bombardeamentos em vários locais. É uma situação volátil e muito difícil”, sublinha.

Perante a situação de emergência, Tetiana Stawnychy e os trabalhadores da Cáritas estão focados no presente, mas perspetivam “um longo processo” na recuperação do país.

“Quando isto terminar, o regresso ao normal vai tardar. Teremos de reconstruir infraestruturas e dar condições às pessoas para trabalhar. Para além do apoio psicológico. Será um grande trauma”, reconhece.

Comida, combustível, roupa, água e medicamentos são os bens essenciais para a ajuda imediata, mas Tetiana Stawnychy reforça que este é o “sexto dia de guerra” e que nos em breve vão dispor de uma lista “mais concreta” sobre o que necessitam.

O padre Vyacheslav Grynevych, diretor da Caritas-Spes, ligada à Igreja Católica, pede que sejam contactadas as organizações locais sobre o que poderá ser mais útil.

“Se alguns gostariam de ajudar é melhor perguntar às organizações locais que sabem o que pode ser útil. A solidariedade mostra a generosidade das pessoas, mas é importante ajudar com o que é necessário”, destaca, na conferência de imprensa.

O padre Grynevych diz que as mercearias em Kiev estão vazias, que a cidade está fechada e que as pessoas não podem sair à rua e devem permanecer em locais seguros.

“A situação é difícil”, relata.

“A guerra faz as crianças e os adultos chorar. A dor e o medo vão demorar a passar”, acrescenta.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades.

A invasão russa foi condenada pela maior parte da comunidade internacional.

Ambos os responsáveis das organizações dão conta da solidariedade sentida e afirmam não se sentir sozinhos, sempre em contacto com as organizações humanitárias e as organizações locais para acolher os deslocados.

Há também esforços que antecipam a possibilidade de a “situação piorar” e perderem a “comunicação com o resto do mundo”.

“Estamos à procura de lugares seguros, de dia e de noite. Tentamos responder à situação o mais rápido possível. Estamos a acolher 200 pessoas no abrigo. É um local seguro e estamos preparados para acolher essas pessoas. Temos abrigos outros cinco locais, um deles para crianças e grávidas”, refere.

Sobre a ajuda para a evacuação das pessoas Tetiana Stawnychy sugere o contacto com as Cáritas vizinhas, bem como com as paróquias das fronteiras para o provimento de bens essenciais.

A Cáritas Polónia, a participar na conferência de imprensa, deu conta do acolhimento, até ao momento de três mil crianças, mas afirmou que, em articulação com o governo, têm capacidade para acolher mais.

“Acolhemos todos na fronteira, nos centros de acolhimento. Há 400 mil refugiados que atravessaram a fronteira com a Polónia”, regista Ireneusz Krause, vice-diretor da Caritas Polónia.

O apoio prestado está focado na alimentação e nos medicamentos, mas a organização espera um aumento “na chegada de deslocados” e dá conta que várias instituições na Polónia estão a tentar criar espaços para as próximas ondas de deslocados.

À fronteiras chegam mulheres e crianças “exaustos” pelos dias nas filas e a Cáritas procura apoiar com alimentos e assistência médica.

LS

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