Isabel Capeloa Gil quer potenciar jovens de «meios sociais de grande fragilidade»
Lisboa, 10 out 2019 (Ecclesia) – A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) anunciou hoje o lançamento do programa ‘Ser Capaz’, de “diagnóstico e acompanhamento potencial” de alunos de “meios sociais de grande fragilidade”, na abertura do ano académico 2019/2020.
“Vamos trabalhar com as escolas secundárias em áreas deprimidas, diagnosticar um grupo de jovens, começar com 10. Vamos acompanhá-los no seu exercício de candidatura à universidade e vamos acompanhá-los dentro da universidade, queremos colocá-los nos cursos com mais prestígio”, disse Isabel Capeloa Gil aos jornalistas no final da sessão
A reitora da UCP explicou que a instituição tem captado os estudantes “com mais mérito” mas também tem de se lembrar que há um grupo de jovens de “meios sociais de grande fragilidade” que terminam o Ensino Secundário mas “não anseiam mais”, porque “as condições em que a sua existência se desenvolve não o permite”.
“Uma universidade que é católica, que quer ser inclusiva, que quer verdadeiramente fazer a diferença e contribuir para construir uma sociedade mais ecológica também, tem de fazer um esforço adicional”, observou.
A reitora adiantou que, “pessoalmente, gostaria” de lançar o ‘Ser capaz’, o “programa de diagnóstico e acompanhamento potencial”, no início do ano letivo de 2020 mas, por agora, o “fundamental” é a UCP desenvolver “os instrumentos que permitam identificar esse potencial”.
“Queremos verdadeiramente demonstrar que é junto destes em quem ninguém acredita, dando-lhes uma capacidade de aspirar que a sociedade se renova, cresce, e se desenvolve de forma mais solidária”, desenvolveu, assinalando que o novo programa está ligado a uma “vontade e visão” que a universidade tem que “cultivar uma excelência inclusiva”.
Isabel Capeloa Gil destacou mais duas áreas principais para o novo ano académico, o desenvolvimento e acreditação do Curso de Medicina, que “é uma prioridade absoluta que a universidade vai conseguir”, e o “investimento e desenvolvimento infraestrutural”.
Aos jornalistas, o magno chanceler da UCP, D. Manuel Clemente, explicou que a instituição deve ser “cada vez mais universidade” na responsabilidade de “atender ao conjunto dos saberes, e de uma maneira integrada”, respeitando a especificidade de cada um mas “procurando o sentido humanista que todo o saber deve ter”.
Depois, o cardeal-patriarca de Lisboa realçou que “a proposta católica” deve estar presente, “respeitando o método e o objetivo de cada saber particular”, mas apresentando a “visão cristã das coisas”.
Universidade Católica Portuguesa é, segundo D. Manuel Clemente, um título “mas também um programa, por isso, a instituição de ensino deve estar atenta ao seu país, “às suas necessidades”.
“Estamos disponíveis para colaborar, como temos colaborado ao longo deste meio século, oferecendo à sociedade portuguesa de uma maneira praticamente gratuita, para a política, tudo o que é de licenciados, mestres, professores doutorados. Essa é a sua melhor maneira de ser portuguesa, contribuir para aquele Portugal que todos nós não deixamos de sonhar”, desenvolveu.
Na sessão de abertura do ano académico 2019/2020 a escritora búlgara Julia Kristeva recebeu o grau de doutora Honoris Causa, por proposta da Faculdade de Ciências Humanas da UCP.
“Estou muito impressionada e muito emocionada. Eu não sou ‘Kristeva’, eu não vivo nem trabalho numa imagem, mas emociona-me ver que as pessoas pensam comigo, procuram viver neste mundo de aceleração antropológica, com o desejo de acreditar e de saber; É muito curioso que exista a necessidade de acreditar e o desejo de saber”, disse a “pessimista enérgica” aos jornalistas.
A professora universitária emérita explicou que é “uma filha de Lumière, mais do que agnóstica, uma ateia” mas pensa que agora há a possibilidade, com as ciências humanas, com a psicanálise, de “não ter medo das religiões, de compreender as religiões, esclarecer, elucidar e trabalhar juntos por um pouco mais de esperança”.
A reitora da UCP referiu que Julia Kristeva é uma das “grandes intelectuais europeias”, uma mulher que se tem destacado pelo “diálogo transdisciplinar entre culturas, entre disciplinas, entre religiões”.
“Uma profunda cultora do diálogo com a Igreja Católica, uma pensadora e uma filósofa com uma defesa inabalável da liberdade de pensar”, salientou ainda Isabel Capeloa Gil.
Julia Kristeva, por exemplo, colaborou com o ‘átrio dos gentios’, em 2012, convidada pelo cardeal Gianfranco Ravasi; tem mais de 30 obras, traduzidas em mais de 15 línguas, incluindo português, é doutora Honoris Causa de várias Universidades nos Estados Unidos, Canadá e Europa.
CB/OC