Professor José António Falcão começa visita ao baixo Alentejo no «âmago de Beja»
Beja, 08 ago 2015 (Ecclesia) – O diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da Diocese de Beja destaca os “inúmeros tesouros” da região, que tem “algumas das mais belas igrejas” do sul, e sugere começar pela igreja (musealizada) de Nossa Senhora dos Prazeres.
“Situada no centro da cidade oferece um belíssimo ponto de partida para uma viagem no tempo e no espaço ao redor de Pax Iulia. Quem a visitar poderá colher informações preciosas sobre o que deve ver, onde pode comer ou alojar-se na capital do Baixo Alentejo”, contextualiza o professor José António Falcão.
Segundo o especialista, o título de Nossa Senhora dos Prazeres “atesta uma devoção muito comum” em Portugal na época pós-tridentina, “precisamente quando o culto da Virgem atingiu o clímax”.
Num artigo de opinião, na mais recente edição do Semanário digital ECCLESIA, revela que a escolha do sítio para a construção desta igreja (musealizada) “contíguo à velha ermida de Santo Estêvão” explica-se não só por ser um dos “mais frequentados da urbe” mas pelo costume – “usual em terras do Sul – de se assinalar a “proteção simbólica de cada uma das principais entradas das povoações com a presença de uma capela”
Nos finais do século XVI, ou inícios do seguinte, as autoridades decidiram abrir uma porta na muralha medieval, perto da Corredoura, que ia facilitar o acesso à Praça Grande de Beja.
O diretor do DPHA da Diocese de Beja destaca que o monumento espelha a “implantação local” do culto de Nossa Senhora dos Prazeres.
Segundo o historiador este edifício segue um modelo característico da arte maneirista portuguesa: “Planta longitudinal, de uma só nave, coberta por abóbada de berço, capela-mor mais estreita e mais baixa, com paredes perpendiculares ao arco cruzeiro e abside semicircular, rematada por cúpula e lanternim, e, ainda, sacristia quadrangular adossada, também coberta por abóbada.”
José António Falcão destaca que a azulejaria, a escultura e a pintura “afluem em termos teológicos e plásticos”, mediante um sistema muito coerente na criação de um “teatro sagrado” que permite antever as “glórias do Céu”.
Destaca ainda que a sacristia “continua a preponderar” a fisionomia das campanhas de obras dos finais de Seiscentos e comenta que das pinturas murais “restam alguns vestígios” como um medalhão com a “figura de São João Evangelista” e um “trecho de revestimento de um arco que imita azulejos de ‘figura avulsa”.
O edifício anexo à igreja que foi a casa do despacho e outras dependências da Irmandade de Nossa Senhora dos Prazeres hoje, tem um uso museológico e constitui o “núcleo primordial do renascido” Museu Episcopal.
“Este nome invoca a memória da instituição fundada por monsenhor Amadeu Ruas, em 1892, sob a égide do bispo D. António Xavier de Sousa Monteiro, para evitar a dispersão das obras de arte pertencentes aos últimos conventos e mosteiros femininos de Beja”, desenvolve o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico que afirma que o “ideal” do Museu Episcopal desaparecido com o “advento da República” – preservar, estudar e divulgar o património religioso pacense – “continua vivo”.
CB