O I Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Seres Humanos assinado ontem, envolve várias autoridades, entre elas civis e religiosas. Ainda em fase de elaboração, também dependente da nova lei de imigração a entrar em vigor no próximo ano, a Irmã Júlia da Congregação das Irmãs Adoradoras, afirma à Agência ECCLESIA que ainda “verão de que modo poderão intervir e colaborar com este plano” pois a partir da nova lei é que poderão estabelecer acordos e ver de que modo as duas casas que dispõem poderão auxiliar. No entanto afirma prontamente que “estaremos na primeira linha para ajudar”. “É uma questão de direitos humanos a que a Igreja não pode deixar de dar resposta” sublinha, para além do aspecto da evangelização. Há 150 anos que a Congregação tem como carisma o auxílio às mulheres vítimas e exploradas por isso “sendo opção da Congregação, não nos vamos escusar de participar neste plano”. Em ligação com as autoridades judiciais, a Congregação das Irmãs Adoradoras, desenvolve um trabalho de acolhimento de mulheres que são vítimas de prostituição e de tráfico humano. Quando as autoridades fazem as rusgas, levam as mulheres para as casas de acolhimento das Irmãs que por sua vez, durante cerca de 15 dias a um mês, procuram dar todo o apoio psicológico e fazer o encaminhamento para que possam voltar aos seus países de origem. São maioritariamente brasileiras, jovens, com um ou dois filhos. Já receberam uma menor, mas as idades oscilam entre os 18 e os 24 anos. Vêm do interior do Brasil com a esperança de melhorarem de vida e terem recursos para darem educação aos filhos. Algumas já se prostituíam antes de imigrarem, mas muitas são apanhadas no meio de um sonho. O perfil é traçado pela Irmã Júlia Bacelar que ao longo de seis anos de trabalho recorda terem auxiliado cerca de 40 mulheres. Neste momento estão quatro nas casas de acolhimento. “Vêm com o sonho de um trabalho melhor e quando chegam deparam com uma situação muito diferente à qual não conseguem fugir”. São mulheres muito sofridas e violentadas, “mesmo aquelas que nos países de origem já se prostituíam”. O tempo de permanência com as irmãs prolonga-se por cerca de um mês. “As autoridades tomam conta das declarações para saber das redes que as envolveram e nós preparamos o retorno das mulheres”, nomeadamente contactos com a família, tratar da viagem e todo o acompanhamento médico. “É muito importante o acompanhamento. Conversamos muito” elucida a Irmã Júlia, acrescentando a boa relação que se estabelece. A nova lei vai permitir que as vítimas fiquem por cerca de 60 dias “o que é muito benéfico pois o acompanhamento é melhor e mais profundo” afirma, comparando com as Irmãs de Itália que fazem o acompanhamento durante um ano. Como forma de despiste, as mulheres são muitas vezes enviadas para Espanha. Também aqui as Irmãs Adoradoras têm várias casas, havendo por isso um trabalho em rede. Ao longo de seis anos de trabalho, há muitas memórias de casos complicados “e muito sofridos”. As Irmãs que lidam directamente com as vítimas não são expostas. A Irmã Júlia trata da informação e intercâmbio com as ONG’s e outras entidades. Por outro lado recorda que há dois anos, quando houve um aumento de mulheres vindas de Leste, “muitas não tinham contacto prévio com o mundo da prostituição”. A grande maioria está agora no seu país com a família e os filhos. “De vez em quando telefonam e escrevem”, exemplos ilustrativos do importante que é o auxílio a quem pede ajuda.