«Trabalhador. Boneco de produção? Não.»

Encontro de finalização da campanha nacional da JOC sobre a precariedade e instabilidade do trabalho A Juventude Operária Católica irá realizar, como símbolo da caminhada feita em conjunto, um Encontro Nacional de Jovens do Meio Operário, para o próximo dia 16 de Julho de 2006, na cidade de Braga. Foi escolhido este local pois “este distrito é, na actualidade, dos mais atingidos pela realidade da Precariedade e Instabilidade do Trabalho” – realça um comunicado da JOC. Desde o passado mês de Setembro de 2005, que a JOC portuguesa desenvolve a Campanha Nacional denominada “Trabalhador. Boneco de Produção? Não.” sobre a Precariedade e Instabilidade do Trabalho. Tendo como objectivos gerais despertar e consciencializar mais os jovens para esta realidade, denunciar e dar a conhecer a realidade vivida e fazer propostas de solução. A Juventude Operária Católica é um movimento de jovens do meio operário. “Procura formar os jovens, ajudando-os a transformarem-se, adquirirem novos valores, convicções, atitudes e estilo de vida. O grupo da JOC é um espaço de encontro e partilha entre os jovens, para que cada jovem descubra, tome consciência e transforme a realidade que o envolve. A missão da JOC é evangelizadora. O anúncio de Jesus Cristo é inseparável do compromisso e luta pela libertação e dignidade dos jovens do meio operário. Procura-se que cada jovem assuma a sua vida de forma livre, consciente e responsável e descubra o seu lugar no mundo e na Igreja e aí se torne protagonista” – salienta o documento. O programa do Encontro 10h30 – Chegada/Acolhimento ao Campo das Hortas 11h00 – Marcha pela cidade 12h00 – Concentração no palco da Avenida Central Introdução ao Encontro Apresentação dos Participantes 13h00 – Almoço partilhado 14h30 – Teatro d’ “O Oprimido” 15h15 – Actuação do Cantor de Intervenção Toni da Costa 15h55 – Actuação da TUM – Tuna Universitária do Minho 16h35 – Encerramento Encenação/Oração “No contacto directo com as realidades laborais de cada diocese, especialmente a partir da proximidade e relação com alguns jovens trabalhadores, tomamos conhecimento e confirmamos algumas situações concretas de Precariedade e Instabilidade vividas nos locais de trabalho: a sujeição dos jovens trabalhadores a contratos temporários, muitos deles com duração de um mês; a pressão exercida pelas entidades patronais, ou chefes, sobre os jovens, para que não se organizem ou filiem nos sindicatos; a dependência dos trabalhadores perante o que a entidade patronal definir, nomeadamente em termos de horários de trabalho, marcação de férias e dias de descanso semanal; o desemprego; o desaproveitamento de jovens com formação superior ou específica em determinadas áreas, pois muitos estão a realizar trabalhos que nada têm a ver com as suas qualificações; jovens que não recebem o salário mínimo nacional; horas extraordinárias que não são pagas e muita falta de informação dos jovens sobre os seus direitos como trabalhadores. As causas identificadas são a procura excessiva do lucro por parte das entidades patronais não tendo o trabalhador como. Os trabalhadores querem ganhar cada vez mais dinheiro para ter mais poder de compra numa sociedade extremamente aliciante e consumista, que deixa para trás quem não tem poder financeiro. A falta de formação dos trabalhadores por um lado e dos empresários por outro é outra causa. Um trabalhador sem formação está condenado a sujeitar-se ao trabalho que lhe aparece, sem ter muita possibilidade de escolha ou de sonhar com outro emprego que o realize mais. Um empresário sem formação, que não sabe gerir uma empresa, que olha a empresa apenas como um meio de ganhar dinheiro, que investe durante muito tempo os lucros apenas em bens pessoais e não na modernização, é em muitas situações uma porta para a falência e consequentemente para o desemprego de muitos trabalhadores. A precariedade resulta também da falta de união e solidariedade entre trabalhadores, devido ao medo de perderem o trabalho e ao clima de insegurança e instabilidade existente no mercado de trabalho. Finalmente, permanece uma grande desadequação do sistema educativo e da oferta de formação profissional às necessidades do mercado de trabalho. Esta realidade da precariedade e instabilidade do trabalho está a ter consequências muito graves na vida das pessoas. Assistimos a uma nova vaga de emigração, nota-se acomodamento dos trabalhadores, empobrecimento das relações, individualismo, uma grande subjugação, dos trabalhadores às condições que lhes são oferecidas e um enfraquecimento da acção dos sindicatos. Na família, é cada vez mais difícil as pessoas programarem a sua vida; a constituição de família e o nascimento dos filhos são retardados. O endividamento das famílias, a diminuição do poder de compra e a falta de tempo dos pais para acompanharem os filhos também são consequência da precariedade vivida. A nível social temos como consequência o aumento da pobreza, da exclusão social, da violência, de algumas perturbações psíquicas e mesmo do suicídio. Após a análise da realidade, nós, os militantes da JOC analisamos e aprofundamos a realidade da vida dos jovens trabalhadores à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da Doutrina Social da Igreja e dos Direitos do Homem. Procuramos abrir perspectivas de acção para a nossa vida militante e contributo na construção de uma sociedade nova e de um mundo laboral mais humano. Enquanto militantes cristãos operários temos a missão de lutar pelo respeito da dignidade de cada jovem trabalhador. Temos obrigação de conhecer a realidade que nos rodeia, de a dar conhecer, numa atitude profética, de denúncia de tudo o que vai contra a dignidade humana e anúncio dos valores de Jesus Cristo. Devemos denunciar que o desemprego é sempre um mal, que o trabalho é o meio que cada homem e mulher têm para adquirir os bens necessários a uma vida digna e que sem o trabalho o Homem não pode viver dignamente. Numa perspectiva de futuro e numa atitude de esperança, devemos incentivar os outros a acreditarem que é possível melhorar a situação laboral e evitar o discurso derrotista e pessimista. Temos a missão de formar consciências; sensibilizar os jovens para a importância de estarem informados, serem conhecedores dos seus direitos e deveres, estarem atentos e interventivos. Temos o dever de encarar o trabalho como uma forma de contribuirmos para a sociedade. Não olhar o trabalho apenas como um fardo e transmitindo alegria pelo nosso trabalho, por aquilo que fazemos. Devemos estimular o espírito associativo das pessoas, a participação em Associações/Comissões de Trabalhadores, sindicatos,… ajudando na luta por melhores condições de trabalho. O emprego é hoje um bem escasso, mas apesar disso os trabalhadores não podem aceitar qualquer coisa, não podem deixar-se humilhar: “um trabalhador vale mais que todo o ouro do mundo” (Cardijn). Devemos defender o princípio da solidariedade no trabalho: “O trabalho para todos”. Assim, o nosso testemunho de vida tem de ser coerente com estes princípios e com o que acreditamos. Só educamos se os outros virem que vivemos o que dizemos: com coragem, perseverança e convicção. Não sou coerente quando defendo o direito ao emprego e tenho 2 ou 3 empregos, quando milhares de pessoas continuam no desemprego; não posso fazer constantemente, e por rotina, horas extraordinárias quando isso permitiria criar um novo posto de trabalho; nem posso continuar a frequentar Centros Comerciais e Hipermercados nos feriados e fins-de-semana, quando gosto de estar a descansar, e os trabalhadores nestes locais estão a ser explorados. Devemos persistir em anunciar que o Homem é o centro de toda a economia; que o trabalho deve permitir a cada pessoa usufruir de um salário que lhe permita, a si e à sua família, ter uma vida digna; que o homem e a mulher devem ser valorizados da mesma maneira; que os horários laborais devem ser conciliáveis com a vida familiar e que todo o trabalho é um contributo do Homem para o bem comum. O mercado de trabalho está muito ligado à escola. Esta deve estar adaptada às necessidades do mesmo para não continuarmos a gerar tristeza e frustração nos jovens pela falta de trabalho e de realização profissional. O futuro profissional dos jovens trabalhadores depende de todos nós. Temos que criar solidariedade e juntos lutarmos para que os Direitos Humanos sejam respeitados, e sendo cristãos tendo em conta a Doutrina Social da Igreja e o Evangelho”. A Coordenadora Nacional – Maria das Neves de Oliveira Jesus

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